- Bom dia padre.
- Bom dia meu jovem, veio para se confessar?
- Sim.
- Então venha comigo. Quanto tempo desde a última confissão?
- Acho que uns 2 ou 3 anos.
- E de quais pecados se lembra?
- Bem padre, na verdade, eu vim para confessar apenas um pecado.
- Verdade? Incrível. Mas pode começar.
- Foi assim padre, eu estava caminhando da minha casa para o trabalho como faço todos os dias, e de repente eu imaginei que uma mulher estivesse na outra quadra, e ela é muito bonita sabe. E como talvez ela viesse na minha direção, e eu a conheço, então pensei nela e cometi um pecado, e por isso vim me confessar.
- Vamos do começo, você imaginou que uma mulher estivesse passando, mas não viu a tal mulher; e como você conhece a mulher, e imaginou que ela poderia passar por ali, acha cometeu um pecado. Foi isso mesmo?
- Isso mesmo padre.
- Então pode ir tranquilo, que não cometeu nenhum pecado.
- Padre, o senhor pensou em tudo o que eu disse? Essa mulher poderia passar por ali e então eu pequei mesmo.
- Meu jovem, não existe pecado por imaginar uma situação que nunca existiu e nem existirá.
- Padre, o senhor precisa se atualizar. Esse pecado já existe sim.
- Então me diga, quem disse isso ou onde está escrito?
- O STF disse padre.
- Como assim o STF disse? Pode se explicar?
- Vamos lá padre. O senhor já ouviu falar em Deltan Dallagnol?
- Claro, o procurador federal da lava jato.
- Não padre, ele deixou de ser procurador e foi eleito deputado federal.
- Certo, ele é deputado federal, e o que tem o deputado federal com a sua confissão?
- Padre, ele não é mais deputado federal.
- Escute aqui meu rapaz, você veio brincar comigo? Saiba que tenho mais o que fazer.
- Calma padre, eu explico.
- Está bem, então o ex-procurador agora é um ex-deputado federal. E como aconteceu isso, se o mandato dele mal começou?
- Vamos do início. Quando ele era procurador federal, havia algumas pessoas que não gostavam dele, e estavam tramando algumas denúncias contra ele, mas ele nem sabia disso. Então ele resolveu que queria entrar para a política e pediu o afastamento do Ministério Público. Eles concederam a ele um documento que lhe dava condições de ser candidato, e assim aconteceu.
- Pode continuar, quero saber até onde vai tudo isso.
- Então padre, ele foi eleito por mais de 344 mil pessoas e assumiu como deputado federal. Mas ele se tornou um deputado muito intenso e começou a fazer denúncias contra as pessoas que acabaram com a lava jato. O senhor lembra da lava jato não é?
- Lembro sim, continue. Você ainda não falou porque ele foi cassado.
- Já chego lá. Então alguns políticos se sentiram ameaçados por suas palavras e resolveram entrar com um pedido de cancelamento de seu registro como candidato.
- E isso é possível?
- Sim, é possível, mas para isso, tem que existir provas robustas e documentadas que provem a desonestidade do candidato.
- E provaram não é? E por isso cancelaram o registro.
- Não padre. Lembra que falei que tinhas algumas pessoas que não gostavam dele e estavam tramando algumas denúncias contra ele,
- Sim. E ele foi denunciado?
- Não padre, ele não foi denunciado, mas eles pensavam em denunciar, o TSE aceitou a intenção e cancelaram o registro e assim ele perdeu o mandato.
- Você não falou que era o STF?
- Padre, STF e TSE é a mesma coisa, são os mesmos juízes.
- Mas onde entra isso na sua confissão?
- Lembra padre, foi com a intenção de fazerem a denúncia contra o ex-procurador e agora ex-deputado que ele foi cassado, então se eu tive a intenção de admirar a mulher que ia passar na minha rua, eu pequei.
- Olha aqui rapaz, se usaram uma intenção de denunciar o ex-procurador para cancelar o registro de candidato, eu nada tenho com isso, só lamento que as leis estejam desse jeito. Mas aqui na Igreja Católica Apostólica Romana tudo continua como sempre foi, pecado só é pecado, se tiver INTENÇÃO, CONHECIMENTO e MATERIALIDADE. Ou seja, se conhecer, se quiser e se executar, então vai pra casa e pensa em tudo isso.
- Tá bom padre, me desculpe.
- Vai com Deus e reze para que as coisas voltem ao normal na sua vida e no Brasil.
Antonio Ribas
Escritor
Autor do romance policial - LEON MAGNO Onde a lei não alcança e
da fantasia/ficção - MAHY-RA Uma lenda na Amazônia (Em breve).