No dia 11 de fevereiro de 2024 se comemorou o dia internacional de mulheres e meninas na ciência. Esta data foi instituída pelas Nações unidas visando dar maior acesso à participação igualitária das mulheres na ciência, por ser uma área imprescindível para o alcance das metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Paralelo a esta data, nas últimas semanas, tivemos também a ocorrência dos dias mais quentes dos últimos tempos, com o Ano de 2024 alcançando as temperaturas mais altas já registradas pela ciência, com uma temperatura de 1,66 °C acima do período pré-industrial.
Com base nestas duas informações, convido você leitor a refletir sobre a contribuição de mulheres em relação à pesquisa científica referente as alterações climáticas, além das consequências que estas mudanças impactam de maneira distinta, no que diz respeito a perspectiva de gênero, pois às ameaças do aumento da temperatura do planeta e suas implicações sociais não são neutras em termos de gênero.
De acordo com um relatório da ONU (2023) em comparação com os homens nos países pobres, as mulheres enfrentam desvantagens históricas, que incluem acesso limitado à tomada de decisões e aos ativos econômicos que agravam os desafios das alterações climática. Assim, torna-se essencial que cada intervenção relativa às mudanças climáticas seja submetida a uma avaliação de gênero, e que pesquisadoras em gênero sejam envolvidas em todos os estágios dos processos relacionados às mudanças climáticas, a fim de reconhecer e resolver as demandas e prioridades particulares deste público, incluindo outras camadas relativas à população LGBTQIAPN+ que também é pouco discutido neste tema.
Na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, realizada em Bali, em dezembro de 2007, foi conduzido o Plano de Ação de Bali para apoiar o processo de negociação reiterando a necessidade de uma abordagem eficaz das alterações climáticas, pois é imprescindível estratégias de mitigação e adaptação, bem como transferência de tecnologia e financiamento.
O reconhecimento das contribuições das mulheres no contexto das mudanças climáticas tem aumentado no último século, destacando-se a importância das suas percepções sobre os impactos desproporcionais desses problemas sobre elas. A inclusão da realização de análises de gênero quanto as questões climáticas foram identificadas como uma forma mais eficaz de mitigar essas mudanças.
Mulheres têm desempenhado papéis-chave na pesquisa, política e liderança internacional sobre este tema, destacando-se figuras dentro do sistema ONU, como Christiana Figueres, que liderou negociações climáticas globais como Secretária Executiva da UNFCCC, e Susan Solomon, que presidiu importantes grupos de trabalho científicos sobre o clima, além de figuras extra institucionais, como a Greta Thunberg uma jovem ativista ambiental que ficou conhecida após seu protesto fora do prédio do parlamento sueco como líder do movimento Greve das escolas pelo clima, sendo amplamente divulgada nas redes sociais e nas mídias após seu discursou na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2018.
Fazendo uma breve pesquisa quanto a contribuição científica de mulheres quanto ao clima, me deparei com uma série de reportagens e notícias sobre mulheres que fizeram contribuições importantes como: Nzambi é uma engenheira, inventora e empreendedora. Fundadora da Gjenje Makers, no Quênia, onde ela criou um equipamento que transforma plástico em tijolos resistentes usados para pavimentar ruas, e também na decoração residencial (GIL, 2013). Na China Rural, Xiaoyuan Ren fundadora da MyH2O, uma plataforma de dados que conecta os recursos de água limpa às comunidades rurais na China e da índia, viabilizando água potável subterrânea para estas comunidades.
No âmbito político temos nossa ministra do meio Ambiente Marina Silva, que tem sua história marcada pela luta pelos direitos dos seringueiros, assim como seu ativismo pelo meio ambiente, juntamente com a ministra Sonia Guajajara reconhecida internacionalmente na defesa dos direitos dos povos indígenas, seus territórios e causas socioambientais, sendo eleita uma das 100 pessoas mais influentes de 2022 pela revista TIME. Lembrando que a política também é uma ciência que vem sendo articulada e movimentada por mulheres que se reconhecem como lideranças políticas para melhora da realidade de suas comunidades representativas.
Que a comemoração do dia 11 de fevereiro e logo mais a do dia 8 de março possamos promover e nos alegrar com as realizações que nós mulheres temos produzido no mundo, como também devemos olhar para o horizonte e marcharmos firmes por mais equidade de gênero na produção da ciência, do olhar crítico sobre a realidade que queremos ter e para os espaços de poder que precisam ser mais inclusivos e representativos da nossa multiplicidade e desafios do “ser mulher” (entre aspas em respeito as camadas que esta expressão denota com respeito a comunidade LGBTQIAPN+ que também fazem parte deste contexto) .
Referenciais Bibliográficos do texto:
- https://www.unep.org/youngchampions/pt-br/bio/2020/asia-and-pacific/xiaoyuan-ren