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E.S.C.O.META:o RPG que trouxe o palco para a mesa

O que acontece quando um grupo de amigos se reúne para contar uma história? No RPG, a resposta está no dado – e no improviso.

26/03/2025 10h55
Por: Rodrigo Charneski
 E.S.C.O.META:o RPG que trouxe o palco para a mesa

Certa vez, em uma mesa de cafeteria, um amigo me disse: “RPG é coisa de criança.” Dei um gole no meu café, olhei bem nos olhos dele e respondi: “Exato. E por isso é maravilhoso.”

RPG de mesa não é só um jogo – é um ritual, uma arte, um teatro sem ensaio onde os atores também participam do roteiro. Enquanto o mundo digital nos empurra cada vez mais para experiências mastigadas, com gráficos hiper-realistas e finais prontos, contados milhares de vezes, o RPG segue como um dos últimos bastiões da imaginação pura.

Lembro da primeira vez que rolei um dado de 20 lados. Nenhuma das sete artes conseguiu replicar aquela sensação nos 15 anos seguintes. Era fascinante pensar que o destino do meu personagem estava nas mãos de um objeto caindo sobre a mesa, um pequeno caos de física e sorte decidindo o rumo da história. Foi algo inesquecível.

Mas neste sábado, 22 de Março, algo foi diferente. Fiquei sabendo do E.S.C.O.META, o primeiro RPG com plateia de Ponta Grossa. Já tinha sido mestre ou jogador inúmeras vezes, mas nunca espectador. Pela primeira vez, sentei-me junto ao público para assistir desconhecidos darem vida a personagens ainda mais enigmáticos. O palco dessa experiência foi o Café Gato de Botas, uma charmosa cafeteria na Rua Riachuelo, ao lado da UEPG central. 

A sigla E.S.C.O.META oficialmente — e extraoficialmente —  significa Esquadrão de Combate aos Metamorífagos e a campanha segue a jornada de sete agentes especializados em caçar monstros mutantes. A missão parecia simples: coletar amostras de um laboratório na África do Sul. No entanto, ao chegarem, descobrem o laboratório sob ataque. Determinados a rastrear os inimigos, a equipe segue as pegadas deixadas pelos invasores após o atentado frustrado.

O que parecia ser uma missão rotineira logo se revela muito maior do que imaginavam. Ao se depararem com a verdadeira ameaça por trás do ataque, eles decidem enfrentar a oportunidade de acabar com 'A Colheita'. Mas o que eles não sabem é que esse jogo de gato e rato pode ser muito mais complexo e perigoso do que qualquer um deles havia previsto.

No centro da cafeteria, uma grande mesa retangular reunia sete pessoas — três de cada lado e uma na ponta. Espalhados sobre a mesa, fichas de personagens e diversos dados de diferentes lados aguardavam para decidir o destino da história. Diante de duas xícaras de café (preto e sem açúcar), observei quando a figura sentada na cabeceira se levantou. EraElena Leone, Mestra e idealizadora do evento.

Após uma breve introdução, ela começou a narrar as primeiras cenas da história. O público e os jogadores arregalaram os olhos, quase sem piscar, absorvendo cada detalhe da trama que se desenrolava diante deles

"Dentro de um laboratório sombrio, uma figura misteriosa se aproxima de um cientista que, concentrado, coleta os sinais vitais de um paciente. Ela pergunta como está o andamento da experiência. O cientista, sem desviar o olhar, responde que a regeneração ainda é lenta."

Após uma pausa dramática, Elena volta a narrar.

"Mas então... há regeneração."

A frase pairou no ar por um momento. Os jogadores se entreolharam, já sentindo o peso das escolhas que teriam de fazer. Dados rolaram sobre a mesa, alguns deslizando suavemente, outros quicando antes de revelar seu veredicto. A trama se desenrolava como onde cada decisão moldava o destino dos personagens.

Foi então que fomos apresentados aos personagens. Cada jogador trouxe sua criação à vida — nomes, rostos, trejeitos. Alguns falavam com confiança, outros deixavam o mistério fazer seu trabalho. Mas todos pareciam ter um objetivo claro: tornar aqueles personagens reais para a plateia.

Uma em especial chamou atenção: Agente Supernova. O nome já sugeria perigo, e sua presença só confirmou. Implacável, imprevisível, mortal. Uma mulher que pilotava pelas ruas da França como se desafiando a própria morte. Sua postura refletia uma mistura de orgulho e habilidade letal, como se cada movimento fosse calculado para enfeitiçar e ameaçar ao mesmo tempo.

A dona dessa interpretação magnética? Mariana de Holanda, co-fundadora do projeto. Enquanto narrava as cenas de sua personagem cortando o trânsito em alta velocidade, disposta a deixar o público prender a respiração um pouco mais. Mariana me contou um pouco de onde saiu a inspiração para o evento e para a aventura.

"A inspiração vem de todos os lados! Pode parecer clichê, mas o RPG é uma parte muito importante da nossa vida. Jogamos há muitos anos, participamos de diversos tipos de mesas e assistimos a diferentes formatos de RPG, tanto presenciais quanto online. Sem falar que cada jogador coloca um pouco de si em seus personagens! Essa paixão é, sem dúvida, um dos principais motivos para criarmos este projeto."

Em uma pausa entre jogadas, fui conversar com Elena sobre as inspirações para criar toda a história do E.S.C.O.META . Seu olhar brilhou antes de responder: “Uma é a creepypasta, que chama Happy Farms, conta a história de uma empresa que modifica geneticamente alguns animais para criar mais carne. e também é Utopia, uma série da Amazon que fala sobre uma revista em quadrinhos que prevê o fim do mundo e como eles investigam isso, e uma série de doenças que surgem e são previstas por essa revista.”

São projetos e experiências como o E.S.C.O.META que ajudam a popularizar cada vez mais a cultura popular em Ponta Grossa, ´projetos que reúnem pessoas incríveis dispostas a jogar, viver ou contar uma história. “RPG é uma cena que tem que crescer. Apesar da bolha ser movimentada, é tudo dentro da bolha, então é muito importante a gente expandir isso. A minha motivação foi justamente essa: expandir a cultura do RPG e mostrar que RPG não é só jogo medieval, não é só Dungeons & Dragons, que é o sistema mais famoso, não é só dragão e espada, e que também excede a Ordem Paranormal.” Conta Elena.

É isso que torna o RPG especial. Diferente de um filme ou de um livro, aqui ninguém está apenas consumindo uma história – estamos vivendo ela. Em uma época em que o escapismo virou necessidade, nada se compara à emoção de um bom mestre de jogo descrevendo um castelo em ruínas sob um céu cor de chumbo, ou o interior de um laboratório tomados por insetos mutantes, enquanto os jogadores decidem se exploram ou fogem.

O RPG sobrevive porque, no fundo, gostamos de contar e viver histórias. E enquanto houver alguém disposto a rolar dados e encarnar um paladino atormentado ou um ladino trapaceiro, esse jogo continuará vivo.

Talvez meu amigo do começo da história nunca jogue uma sessão, mas tudo bem. O RPG não precisa de aceitação – ele só precisa de uma mesa, alguns dados e pessoas dispostas a sonhar.

Essa foi apenas a primeira sessão do RPG com plateia, mas a história está longe de terminar. A próxima etapa da campanha acontece no dia 5 de abril, às 11h30, novamente no Café Gato de Botas, e a entrada é livre. Um evento imperdível para veteranos do RPG e também para aqueles que desejam mergulhar nesse universo pela primeira vez. Fique ligado nas próximas matérias, onde vamos explorar mais sobre o enredo, os desafios que aguardam os jogadores e os personagens únicos que dão vida a essa jornada repleta de mistério e intriga.

Saiba mais sobre o E.S.C.O.META





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Mariana HolandaHá 3 dias Ponta Grossa - ParanáQue visão bonita sobre o RPG, Rodrigo! Ficamos muito felizes com a participação de vocês, espero que gostem dos próximos capítulos!
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