A dinâmica do mercado de trabalho passa por mudanças significativas, e uma delas ganha destaque: a chamada demissão silenciosa ou quiet quitting. Trata-se de um fenômeno complexo cada vez mais comum nos ambientes corporativos.
Esse conceito ganhou notoriedade em uma publicação no TikTok. Um usuário da rede social postou um vídeo explicando a expressão, que viralizou. Desde então, a hashtag #quietquitting alcançou cerca de 900 milhões de visualizações.
De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Robert Half neste ano, 62% dos profissionais consideram desistir de seus empregos devido à falta de reconhecimento ou de oportunidades de crescimento. Além disso, 57% dos colaboradores vêm diminuindo seu engajamento no trabalho, optando por realizar apenas o mínimo necessário para cumprir suas obrigações.
Embora não signifique que esses profissionais estejam saindo de seus empregos de maneira imediata e explícita, eles estão, de fato, abandonando a ideia de superar as expectativas e dedicar um esforço adicional em suas funções. Esse desinteresse pode ser prejudicial tanto para os colaboradores como para as empresas, uma vez que pode afetar o desempenho individual, a produtividade da equipe e, consequentemente, os resultados organizacionais.
A pesquisa da Robert Half também revela que os desafios relacionados aos gestores imediatos são a principal causa desse desengajamento. Isso destaca a importância das relações interpessoais no trabalho e como a gestão de pessoas desempenha um papel fundamental na motivação dos colaboradores. Quando não se sentem valorizados, apoiados ou ouvidos por seus superiores, é mais provável que adotem a prática da demissão silenciosa como autopreservação.
A pesquisa também aponta que 52% dos executivos identificaram a demissão silenciosa em suas empresas nos últimos seis meses, e 57% acreditam que essa tendência persistirá no médio a longo prazo. Fica um alerta para os profissionais que estão em cargos de gestão, e principalmente para o setor de recursos humanos, que devem tomar medidas para prevenir e combater esse fenômeno, pois a perda de talentos é dispendiosa e prejudicial para a cultura organizacional.
Como as empresas podem recuperar o engajamento de seus colaboradores e evitar a demissão silenciosa? De acordo com a pesquisa, 69% dos recrutadores acreditam que a comunicação clara e direta entre líderes e liderados é essencial para minimizar o impacto dessa prática.
A transparência e a comunicação eficaz nas relações entre superiores e subordinados podem ajudar a restaurar a confiança e o comprometimento dos colaboradores, permitindo que expressem suas preocupações, sugestões e expectativas. Essa prática diária criará um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e acolhedor. Além disso, oferecer treinamentos, mentorias e programas de capacitação pode motivar os colaboradores a se envolverem mais ativamente em suas funções e entregarem mais resultados, uma vez que enxergam um futuro promissor em sua trajetória profissional.
As empresas precisam reconhecer e reavaliar cada vez mais a importância de manter seus colaboradores engajados e motivados, tendo como consequência o aumento da produtividade, da participação ativa e o desejo de entregar sempre o melhor.
Portanto, as empresas que desejam o engajamento dos colaboradores, manter uma marca forte e prosperar no futuro devem estar atentas a essa tendência e planejar medidas estratégicas para evitá-la, garantindo assim a satisfação e a retenção de seus talentos. A demissão silenciosa não precisa fazer parte da realidade das organizações, desde que haja a conscientização interna de que ela existe e a criação de projetos e ações para mantê-la sob controle.
* Ana Paula Oliveira é fundadora da assessoria Remottas, coautora do livro Secretariado Remoto e Assistente Virtual e Secretária Executiva no Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica