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Charutos, traumas e mutantes: conheça os personagens do E.S.C.O.META

Entre risadas e decisões difíceis, a segunda sessão do RPG revela personagens marcantes e o poder de criar vínculos através da interpretação

09/04/2025 11h27 Atualizada há 5 dias
Por: Rodrigo Charneski
Charutos, traumas e mutantes: conheça os personagens do E.S.C.O.META

O segundo dia do E.S.C.O.META aconteceu novamente no Café Gato de Botas, na Rua Riachuelo. O espaço, já conhecido pelos frequentadores, foi mais uma vez cenário de dados rolando, café quente e personagens se aprofundando em suas jornadas.

Desta vez, no entanto, o clima parecia diferente. O mundo do jogo não era mais apenas um pano de fundo — ele começava a pressionar os jogadores, a exigir respostas. E os personagens, antes recém-apresentados, agora davam sinais de desgaste, dúvida e transformação.

No RPG, há um momento quase imperceptível em que o jogador deixa de apenas interpretar um personagem e começa, de algum modo, a ser moldado por ele. No segundo dia do E.S.C.O.META, esse instante pareceu se espalhar pela mesa como uma névoa. Os olhares estavam mais densos. As decisões, mais cuidadosas e os medos, cada vez mais perto.

Não era apenas a continuação de uma campanha sobre monstros mutantes. Aos poucos, tornava-se claro que as ameaças mais complexas não estavam no mapa, mas dentro de cada personagem — ou, quem sabe, dentro dos próprios jogadores. Era no modo como hesitavam, improvisavam ou mergulhavam em suas falas que surgia a verdadeira narrativa. E é conhecendo esses personagens que começamos a entender o que, de fato, está em jogo no E.S.C.O.META.

Conheça alguns dos personagens do E.S.C.O.META

 

Agente Alemão

"Admiro sua fé nas pessoas... Pena que a realidade não faz jus ao seu jeito gentil de ver o mundo..."

Créditos:Equipe de Arte do Esquadrão

O jogador Gabriel Vieira dá vida a Jack Cooper, o Agente Alemão — um dos membros mais implacáveis do esquadrão, facilmente reconhecível pelo inseparável charuto entre os dentes. Mais do que uma fachada durona, Jack carrega cicatrizes invisíveis: é atormentado pela lembrança da perda de um antigo companheiro de equipe, uma dor mais profunda do que um tiro de fuzil.

Segundo Gabriel, o personagem foi nascendo aos poucos, sem grandes planejamentos. “Jack é um ex-veterano de guerra do Afeganistão, bastante traumatizado com tudo o que viveu. No começo, eu só queria interpretar um caipira... mas nas férias minha cabeça foi bombardeada de ideias, e aí comecei a construir a história dele”, conta.

 

Agente Caça-Ratos

"Eles te abandonaram e nenhuma outra família quis você. Pra que ter um sobrenome se ninguém vai se lembrar de quem você foi?"

Créditos:Equipe de Arte do Esquadrão

Grid é um agente metódico e obstinado, conhecido por sua obsessão em exterminar ratos mutantes. Sempre sério e focado, ele encara sua missão com uma devoção quase fanática. Interpretado por Filipe de Almeida Rezniski, o personagem carrega um passado sombrio que justifica sua fúria.

“Ele é um estadunidense que sempre viveu na humildade. Cresceu em ambientes degradados — casas infestadas, orfanatos esquecidos, sempre sem dinheiro. Convivendo com ratos.” O trauma se acentuou na vida adulta, quando os mesmos ratos que antes dividiam comida com ele quase o devoraram. “Isso criou um complexo, uma obsessão em exterminá-los”, explica Felipe.

Grid não é apenas um exterminador de pragas — é um homem assombrado, movido por uma vingança pessoal contra as criaturas que representam tudo o que ele tentou deixar para trás.

 

Agente Supernova

"Me quebrei tantas vezes tentando encontrar uma ponta de sentido para estar viva. Me pergunto se algum dia sequer já estive inteira."

Créditos:Equipe de Arte do Esquadrão

Madison Hawk cresceu marcada por uma forte negligência emocional, o que afetou profundamente sua maneira de interagir com o mundo. Sem entender como as pessoas funcionavam, ela passou a observá-las como quem estuda um idioma estrangeiro. Aproximava-se não por empatia, mas por curiosidade — tentando decifrar e reproduzir comportamentos que não sentia de fato.

A personagem foi criada por Mariana de Holanda, que revela ter colocado muito de si na construção de Madison. “Gosto de personagens difíceis de entender, mas que em algum nível geram identificação. A Madison tem muito de mim, quer eu queira ou não. Sempre colocamos algo pessoal nos personagens. E eu gosto de interpretá-la justamente por isso: ela está em constante aprendizado — e por isso, erra muito.”

À medida que a narrativa avançava, crescia também o envolvimento dos jogadores com seus papéis. Não se tratava mais apenas de cumprir objetivos ou derrotar inimigos. Era sobre pensar com outra lógica, agir sob outra moral e reagir como alguém completamente diferente de si.

Interpretar, nesse contexto, é mais do que uma brincadeira: é um exercício criativo raro. Um espaço onde se testam novas versões de si mesmo, se improvisam dilemas, se exploram emoções que não cabem na rotina. Um tipo de entretenimento ativo, que desafia, engaja e, acima de tudo, diverte — como todo bom jogo deve ser.

No fim das contas, o RPG é sobre isso: criar laços através do lúdico. Cada dado rolado, cada linha de diálogo improvisada, cada silêncio prolongado entre uma decisão e outra revela muito mais do que as fichas dos personagens. Revela os próprios jogadores.

Eu não vi aquelas pessoas mais que duas vezes na vida. Mas, através de como riem nas brincadeiras da mesa, do jeito que pensam por um segundo a mais antes de falar, e da entrega sincera na interpretação de seus personagens, posso dizer que conheço cada um deles de um jeito que poucas pessoas têm a oportunidade. É uma intimidade curiosa — construída não no cotidiano, mas no improviso compartilhado de um mundo imaginário.

Adoraria fumar um charuto com o Agente Alemão, mesmo que eu tossisse no primeiro trago, só para ouvir seus silêncios entre uma tragada e outra. Gostaria de escutar a história amarga do Agente Caça-Ratos tomando duas latas de energético baratas como se fosse um ritual de exorcismo. E com toda certeza, checaria meu cinto duas vezes se pegasse uma carona com a Agente Supernova.

Naquele segundo dia de E.S.C.O.META, jogou-se um RPG. Mas também se viveu um pedaço daquilo que só o jogo oferece: a chance de se perder num personagem... e talvez, ao fim da sessão, voltar um pouco diferente.

Acompanhe as próximas reportagens para conhecer os outros membros do esquadrão.

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