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Narrativa e Lúdico: O Fascínio do RPG como ferramenta educacional e cultural

Conheça a Caverna Dracônica, Refúgio Geek em Ponta Grossa Um olhar sobre o projeto que promove o RPG e a cultura geek na região

16/10/2024 09h36
Por: Rodrigo Charneski
Reprodução/Freepik
Reprodução/Freepik

Desde os primórdios da humanidade, jogos, brincadeiras e a interpretação têm desempenhado um papel fundamental nas primeiras sociedades humanas. Desde os antigos esportes gregos, complexos jogos de tabuleiros medievais até a atual indústria dos jogos eletrônicos, o ato de jogar é mais que um simples entretenimento. Ele reflete a evolução cultural, social e até espiritual de diferentes povos ao longo dos séculos.

No século XX, os jogos de tabuleiro ganharam enorme popularidade, especialmente com o lançamento de clássicos como "Monopoly" e "Scrabble", além dos “wargames”, jogos que simulavam estratégia militar. Em 1970, dois americanos, Gary Gygax e Dave Arneson, lançaram um novo jogo de tabuleiro conhecido como Dungeons & Dragons, que se diferenciava por permitir aos jogadores criar e interpretar personagens.

 

Role-Playing Game

O RPG (Role-Playing Game), traduzido para Jogo de Interpretação de Papéis, é um jogo em que os participantes assumem os papéis de personagens em uma história colaborativa, guiada por regras específicas e usando dados para determinar as ações. Existe um segundo tipo de jogador, chamado Mestre, responsável por narrar a história, interpretar personagens não-jogadores e arbitrar as regras. Nos últimos anos, o RPG tem ganhado notoriedade na indústria do entretenimento como um nicho da Cultura Geek, conquistando cada vez mais espaço nos cinemas, livros e jogos eletrônicos. O mercado de produtos geek movimenta aproximadamente US$ 300 bilhões globalmente, enquanto no Brasil o valor chega a R$ 21,5 bilhões, de acordo com dados da Licensing International e da Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens (Abral).

Caverna Dracônica

Em Ponta Grossa, a cultura geek tem se destacado nos eventos culturais, principalmente com a fundação do Conselho de Cultura Pop da cidade. Outro projeto que vem ganhando notoriedade é a Caverna Dracônica, um espaço focado em oferecer mesas de RPG para iniciantes, veteranos e também para aqueles que desejam aprender a jogar. A iniciativa foi idealizada pelo estudante de psicologia João Phellipe Mascarenhas, que tinha como objetivo criar uma comunidade de jogadores inspirada nos moldes de Curitiba. 

As atividades da Caverna Dracônica, incluindo anúncios de mesas, mestres e histórias, são frequentemente divulgadas na página oficial do projeto. Além de oferecer cursos para aqueles que desejam se tornar mestres de RPG. Segundo João, a comunicação e o lúdico são essenciais para a expressão individual: “Tem toda uma questão histórica dos seres humanos sempre se reunirem em torno da fogueira para contar histórias. Temos essa necessidade de contar o que a gente está imaginando, o que a gente está pensando, o que está dentro de nós para fora, inclusive do próprio subconsciente, do inconsciente, do subjetivo da pessoa, que no dia a dia a gente não é estimulado a fazer,” declara. 

Além de uma questão cultural, o Caverna Dracônica também surgiu como uma proposta de atuação profissional para o nicho do RPG. Criada em 2023, o projeto continua a levar a experiência e arte do RPG para cada vez mais pessoas da região. “Vamos vender dados de RPG, tabuleiro, produtos relacionados à temática também e cursos. Vão ser mais acessíveis, talvez até gratuitos. E a formação de mestres, que daí sim, vai ser um conteúdo mais pago. Semi-presencial, vai ter a parte online que o pessoal vai poder adquirir para quem quiser mestrar, inclusive até trabalhar na Caverna Dracônica como mestre, já que estamos expandindo,” conclui João.

Educação

O RPG também já foi usado como instrumento pedagógico pelo professor de história Rafael Teixeira, em um colégio da cidade de Castro. Rafael propôs a sua turma a criação de um jogo de interpretação de papéis usando como base a Segunda Guerra Mundial, e assim surgiu o “RPG em Sala: O Dia D Visto Por Outros Olhos.” 

Segundo o professor Rafael, “para que haja, de fato, esse fator de ensino-aprendizagem para os alunos, utilizar as tecnologias, utilizar recursos midiáticos em sala de aula enriquece ainda mais a propagação do conhecimento, porque aí vemos aluno se integrando, de fato, com esse conhecimento, ele fazendo pesquisas, ele fazendo indagações. Então, como professor de História, eu sei o quão importante é a pesquisa para moldar, de fato, o conhecimento histórico que nós temos.” Para realizar o projeto, os alunos tiveram uma aula introdutória sobre os conceitos e mecânicas do RPG. Então, uma parte da turma ficou responsável pela pesquisa técnica, curiosidades e informações da época, enquanto outra parte criou 22 personagens jogáveis dentro do sistema. 

Após a conclusão, o projeto foi apresentado para a Mostra de Trabalho do Colégio. O projeto não agradou somente os alunos, mas também os pais e o colégio. “Foi uma boa receptividade, não somente por parte dos alunos, mas do colégio como um todo também. Foi uma experiência muito válida para eles, porque eles, de fato, colocaram a mão na massa e também para valorizar todo o conhecimento histórico que nós produzimos em sala de aula,” afirma Rafael.

O crescente interesse pelo RPG reflete uma tendência mais ampla de valorização da criatividade, do lúdico e da colaboração na nossa sociedade. Iniciativas como a Caverna Dracônica e projetos pedagógicos inovadores demonstram o poder transformador dos jogos de interpretação de papéis, não apenas como forma de entretenimento, mas também como ferramentas de ensino e desenvolvimento pessoal. Com o mercado geek em expansão e a popularidade crescente do RPG, espera-se que essas atividades continuem a prosperar, enriquecendo culturalmente e educacionalmente aqueles que se aventuram nesse universo fascinante.

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