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Opinião Artigo

Os desafios e contrastes do ecossistema de inovação no Brasil

Rafael de Tarso Schroeder*

31/10/2023 09h13
Por: Redação Fonte: Das assessorias
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O ecossistema de inovação brasileiro vem avançando a passos largos nos últimos anos. Exemplo disso é a posição alcançada pelo país no Global Innovation Index 2023, que avaliou o ambiente de inovação de 132 economias. Neste ano, o Brasil aparece na 49ª colocação, registrando crescimento de cinco posições em relação ao ano passado e assumindo a liderança na América Latina. Apesar disso, ainda persistem inúmeros desafios para que o país ocupe uma posição, no mínimo, compatível com o tamanho da sua economia. 

É indiscutível que a inovação ganha cada vez mais espaço no ambiente corporativo brasileiro. Ao menos nas grandes empresas, é comum encontrarmos setores exclusivamente dedicados ao tema. Para comparação, há cerca de 10 anos, as vagas e posições na área simplesmente não existiam. As poucas corporações que mantinham alguma iniciativa na área alocavam parte do tempo de um profissional de TI (Tecnologia da Informação), de marketing, ou de produto, para pensar e implantar iniciativas envolvendo especificamente os produtos ou serviços. Felizmente, hoje o cenário é bem diferente. Da mesma forma, há inúmeros cursos, capacitações e publicações sobre inovação, democratizando o conhecimento da área e facilitando o acesso a ferramentas e metodologias inovadoras.

Na esfera institucional, o Brasil viu um aumento significativo nas leis e na disponibilidade de recursos, tanto públicos quanto privados, para apoiar iniciativas inovadoras. Em 2021, foi instituída a chamada Lei das Startups, instituindo um marco legal sobre essas empresas e sobre o empreendedorismo inovador. Além disso, cidades como Rio de Janeiro, Curitiba e Foz do Iguaçu adotaram o modelo Sandbox Regulatório, que cria condições simplificadas para que empresas e startups desenvolvam modelos de negócios inovadores e testem tecnologias experimentais para Cidades Inteligentes (Smart Cities), Big Data, Internet das Coisas (IoT) ou Indústria 4.0.

Contudo, apesar desses avanços, alguns desafios e contrastes persistem na realidade brasileira. De forma geral, percebe-se que há diferentes níveis de maturidade no campo da inovação, tanto nas empresas, quanto nas instituições que as apoiam. Se, por um lado, temos algumas startups inovadoras, unicórnios e multinacionais renomadas, na outra ponta, os instrumentos nem sempre alcançam quem mais precisa, o micro e o pequeno empreendedor, que geram a maior parte dos empregos formais do país.

A valorização dos profissionais inovadores e a criação de uma cultura organizacional favorável à inovação também não recebem a atenção devida. Uma transformação profunda demanda tempo, dinheiro e compromisso. Faltam recursos e equipes dedicadas para que os projetos se materializem. Na prática, há muito discurso e pouca realização. Além disso, o Brasil enfrenta a fuga de cérebros para outros países, a baixa produtividade, a frágil qualidade da educação básica e a tardia adoção tecnológica, que inevitavelmente impactam essa equação.

Aqui ainda é necessário abordar a importância das lideranças para a execução da inovação nas empresas, que muitas vezes é insuficiente, insegura ou tímida em termos orçamentários. A inovação não é apenas sobre atrair talentos diversos, mas também sobre orquestrar suas habilidades de maneira eficaz. É sobre reconhecer que o negócio depende de todo um entorno, que também precisa participar, cocriar e estruturar o ecossistema de produtos e serviços. 

É preciso coragem para fazer algo diferente e tornar a inovação uma prioridade. Mais do que isso, ao olhar para as empresas brasileiras, é essencial identificar se existe espaço para a reflexão, conversas e diversidade de ideias. Se o esforço de inovação está focado no que realmente importa, impactando a vida dos seus colaboradores e a cadeia de valor.

Vale ressaltar que a criatividade, um pré-requisito para a inovação, é uma característica intrínseca ao ser humano. Não depende de nada mágico ou fantástico. Ela nada mais é do que a identificação de possibilidades diferentes, fruto das conexões a partir do repertório pessoal e da busca para a solução de problemas. Nesse sentido, o resultado inovador depende de um processo de aprendizado contínuo e sistemático que gera valor e vantagem competitiva.

Mesmo com esses obstáculos, a inovação está viva no Brasil. Centenas de empreendedores e empresas estão fazendo a diferença, demonstrando que há potencial para um futuro mais inovador e próspero. Entendo que temos a necessidade de comunicar e integrar melhor os instrumentos e estabelecer mais pontes entre inovadores, empreendedores e academia. O que falta é, dentro de cada realidade, estabelecer as prioridades, fortalecer as pessoas, em um ambiente mentalmente seguro, capaz de estimular a experimentação. O desafio da inovação no Brasil é real, mas com esforço e colaboração podemos superá-lo.

A inovação é como um vírus que, quando se pega, transforma a maneira como vivemos e trabalhamos. E o fortalecimento do ecossistema inovador é principal, senão o único, caminho para reduzirmos a desigualdade, criarmos ambientes de trabalho mais felizes e alcançarmos o equilíbrio sustentável no sistema produtivo.

*Rafael de Tarso Schroeder é professor, palestrante e especialista em inovação e transformação digital. Possui 15 anos de experiência em projetos realizados junto a SENAI/Sistema Fiep, SEBRAE e institutos de pesquisa, atendendo mais de 150 empresas e cooperativas de todo o Brasil. É coautor do livro “Gestão da Inovação em Cooperativas” e especialista consultado nos estudos/publicações “Empreendedorismo no Brasil 2020” e “Skills 4.0 – Habilidades para a Indústria”. É sócio-fundador da Exy Exoesqueletos, startup que desenvolve exoesqueletos e exovestíveis que preservam a saúde dos trabalhadores.

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