Acompanho atento as discussões e o temor mundial envolvendo as chamadas superbactérias ou bactérias multirresistentes, que são aquelas que se tornaram resistentes a vários antibióticos. A preocupação é tanta que a OMS (Organização Mundial da Saúde) considera que a resistência aos antibióticos é hoje uma das maiores ameaças globais, podendo afetar qualquer pessoa, de qualquer idade, em qualquer país, representando um risco para saúde humana e animal, já que dentre as bactérias temos várias que causam infecções em pets e seres humanos.
É necessário entender que a resistência das bactérias aos antibióticos ocorre naturalmente, mas o uso indiscriminado, irracional e/ou excessivo de antimicrobianos, tanto em humanos como em animais, é uma das causas subjacentes mais importantes, acelerando o surgimento de cepas de bactérias cada vez mais resistentes aos antimicrobianos.
Mas qual o real papel dos animais, médico-veterinários, tutores, pecuaristas e órgãos governamentais neste problema? O contato próximo dos animais de estimação com seus tutores e com o ambiente interno da casa, principalmente cozinha, camas e sofás, possibilita a transmissão das bactérias entre os humanos e seus pets. Vale lembrar que elas podem ser transmitidas dos animais para seus tutores e vice-versa.
Um estudo realizado na Europa, em 2020 pela conceituada Revista Antibiotics, mostrou que mais de 80% dos antibióticos de amplo espectro importantes para a medicina são usados no tratamento de cães e gatos. Além disso, uma outra pesquisa, publicada no mesmo periódico e realizada na Índia, em 2022, constatou que mais de 70% dos médico-veterinários prescrevem antibióticos de acordo com sua experiência pessoal, sem se basear em culturas bacterianas e antibiogramas (exames que identificam a bactéria e testam a quais antibióticos essas bactérias são sensíveis ou resistentes). E no Brasil isso pode ser ainda pior. Explico: assim como nos dois estudos mencionados acima, por aqui também são utilizados na medicina veterinária diversas bases antibióticas usadas na medicina e percebo que a maioria dos veterinários também prescrevem estes medicamentos com base em suas experiências pessoais.
No entanto, esse não me parece ser o maior problema. Aqui, embora já seja obrigatória a retenção de receita para comprar antibióticos de uso humano desde 2010, a aquisição de antimicrobianos de uso veterinário não exige prescrição de profissional habilitado. Tutores, protetores e pecuaristas adquirem antibióticos com base em indicações de leigos ou em suas “experiências pessoais”, mesmo não tendo conhecimento técnico algum. Com isso, é frequente que os animais sejam levados ao atendimento veterinário já tendo recebido ou recebendo algum agente antimicrobiano, o que muitas vezes, além de contribuir para a criação das superbactérias, ainda pode dificultar o diagnóstico preciso da doença.
O que podemos fazer para melhorar essa situação? Certamente a medida mais importante a ser tomada no Brasil é, aos moldes do que já é feito pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), instituir a obrigatoriedade de prescrição e retenção de receita para antibióticos de uso veterinário. Mas, enquanto isso não se torna realidade, é importante conscientizar tutores e pecuaristas para que não instituam terapias sem indicação veterinária e, quando iniciadas, seguir com o tratamento indicado, respeitando doses, horários de administração e tempo de tratamento preconizado.
Quanto aos médico-veterinários, é preciso conscientizá-los quanto à importância da identificação do agente infeccioso, por meio de cultura, e a realização dos testes de sensibilidade (antibiograma). Isso sem esquecer de prescrever o medicamento respeitando sua farmacologia, ou seja, sem tentativas de mudar a posologia para simplesmente facilitar a vida do tutor. Se não o fizermos, estamos fadados a pagar muito caro por isso.
*Harald Fernando Vicente de Brito é médico-veterinário, doutor em Ciências Veterinárias pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e professor da pós-graduação da Faculdade Qualittas
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