A Anvisa aprovou em 2015 a vacina Dengvaxia, um imunizante contra a dengue desenvolvido pela multinacional Sanofi. O acompanhamento da imunização e o excelente trabalho de farmacovigilância das agências regulatórias demonstraram que a vacina poderia aumentar o risco do quadro grave nos casos da primeira infecção por dengue ocorrer após a imunização. A vacina passou a ser indicada apenas para pessoas com histórico de dengue. Esta limitação impediu o uso da Dengvaxia pelo SUS.
Recentemente, o mesmo órgão aprovou o registro de um novo imunizante contra a dengue, a vacina Qdenga produzida pela empresa japonesa Takeda Pharma. O imunizante é composto por um vírus quimérico obtido por engenharia genética que mistura o vírus atenuado (vírus “vivo” mas que não causa a doença) presente na vacina contra febre amarela e as características dos 4 sorotipos do vírus da dengue. Por isso, é considerada uma vacina tetravalente.
A vacina Qdenga é indicada para população entre 4 e 60 anos, aplicação via subcutânea em esquema de duas doses com três meses de intervalo entre as aplicações. A vacina Qdenga passou por vários testes clínicos, atendendo recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e em um dos estudos mais importantes foram acompanhados mais de 20 mil vacinados, durante quatro anos e meio. Os testes demonstraram que a vacina possui eficácia de 60,8% para os quatro sorotipos do vírus, redução de 93% para o risco do quadro grave e uma redução de 80,3% para as hospitalizações pela doença. Durante o período, não foram observadas reações adversas e complicações significativas entre os voluntários, inclusive aqueles que nunca foram infectados pela doença.
De acordo com a OMS, o Brasil está entre os três países latino-americanos que mais registraram casos da doença no primeiro semestre deste ano, com 2,3 milhões de pessoas infectadas, 70% a mais do que a média dos últimos cinco anos. Apesar de aprovada pela Anvisa, a vacina Qdenga ainda passará por análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS para ser incorporada ao Plano Nacional de Imunização (PNI) e então ser distribuída pelo SUS.
Neste primeiro momento, provavelmente não serão disponibilizadas doses suficientes para toda a população de 4 a 60 anos e será necessário um planejamento sobre quais públicos serão convocados para uma campanha de imunização. Uma alternativa é o imunizante que está sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan desde 2009. A previsão é que a vacina nacional esteja disponível em meados de 2025.
O importante, é que sem dúvidas teremos uma vacina contra a dengue a curto ou médio prazo. E isso é um grande avanço, que abre uma nova fase no combate à doença. Contudo, é importante ressaltar que, infelizmente, a vacina não será o fim desta epidemia. A imunização é mais uma arma poderosa, mas as medidas de proteção e prevenção, como a eliminação do mosquito vetor, combinadas com outras estratégias de saúde pública continuarão sendo fundamentais para combater a dengue.
*Daniel de Christo é farmacêutico, mestre em genética e tutor dos cursos de pós-graduação na área de Saúde na Uninter.