Nos últimos dias, as redes sociais vêm sendo inundadas por simulações de ensaios fotográficos criados pelo aplicativo Remini, que utiliza inteligência artificial para produzir fotos realistas a partir de registros enviados pelos próprios usuários. Apesar de surpreendente, o realismo das fotos cria um problema já muito conhecido com a popularização das ferramentas de edição e filtros de redes sociais: a distorção de imagem.
De acordo com a pesquisa Global Digital Overview 2020, o Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de população que mais passa tempo nas mídias sociais, totalizando em média 3 horas e 31 minutos diários. Imersos em uma sociedade cada vez mais conectada, sabemos que hoje é difícil delimitar a linha tênue entre a realidade e o mundo virtual, onde tudo e todos são perfeitos. A imagem de influencers e sua beleza muitas vezes inatingível também ajuda a enfatizar o problema, podendo causar efeitos emocionais e psicológicos graves.
O dismorfismo corporal que já vemos presente nos consultórios só tende a aumentar com a popularização da inteligência artificial e dos filtros que criam peles de cera. Diante de uma tecnologia que sabemos, dificilmente será freada, o ideal é educar e conscientizar as pessoas do que pode ser alcançado na vida real e o que não passa de um padrão inacessível, até mesmo para influencers e famosos, usuários assíduos das ferramentas de edição e simulação virtual.
A busca por procedimentos não invasivos e até cirúrgicos para se assemelhar às imagens criadas por inteligência artificial e filtros de redes sociais vem aumentando a cada dia. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostra que nos últimos dez anos houve um aumento de 141% nos procedimentos em jovens de 13 a 18 anos, público bastante familiarizado com as redes sociais, e que há algumas décadas, raramente realizava procedimentos estéticos e cirúrgicos.
A ideia dos procedimentos faciais que realizamos em consultórios não é, de maneira alguma, criar a perfeição apresentada pelos filtros. A pele, por exemplo, precisa ter textura de pele. A harmonização orofacial surgiu para proporcionar melhoras em pequenas assimetrias, driblar efeitos da idade e deixar o rosto mais harmônico, tudo isso dentro de proporções já existentes no nosso rosto. O objetivo é ressaltar essa beleza, e não padronizá-la.
Cada vez mais se torna papel do profissional, tanto da área da saúde quanto da beleza, orientar e conscientizar os pacientes do que é possível de ser alcançado. Todo procedimento deve ser realizado considerando que cada pessoa possui uma beleza única e própria, e é essa que deve ser valorizada e levada em consideração na hora de se traçar um objetivo a ser alcançado.
*Luise Albuquerque é dentista e especialista em harmonização orofacial