Como Psicóloga Clínica, comecei a perceber que essa questão de “ser eu mesmo” estava presente nas frequentes preocupações das pessoas que eu atendo. A queixa de não se sentirem elas mesmas, acompanhada de um sofrimento psicológico é algo constante.
Essa sensação geralmente vem com uma explicação de estar se sentindo vazio por dentro ou até de não ver sentido na vida. Alguns sentem que usam máscaras diante das pessoas, e o que conhecem de si mesmo não vai além disso.
Então a pessoa não sabe quem ela realmente é além dessa máscara que ela criou para mostrar aos outros. E falar sobre isso é importante para entendermos o que causa isso e quais são os perigos de não viver a autenticidade para a nossa saúde mental.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) mais de 450 milhões de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais no mundo, e até 2030, a depressão deve se tornar a doença mais comum no planeta, afetando mais pessoas do que outras enfermidades como aids, câncer e doenças cardíacas. Numa pesquisa da USP realizada em 11 países durante a pandemia agora, o Brasil é o país que mais tem casos de ansiedade (63%) e depressão (59%).
Sobre essa angústia de não saber quem realmente é, acredito que faça parte do processo da terapia, a pessoa tentar analisar quem ela é e do que ela gosta. Mas em alguns casos a pessoa não tem resposta para isso, ela não sabe quem ela é. Ela não consegue dar nenhum tipo de definição ou ao menos começar alguma. E aí a angústia vem. Se eu não sei quem eu sou, quem sou? Eu de fato existo? O que eu estou fazendo aqui?
Esse tipo de angústia pode gerar crises existenciais, um nível gigantesco de ansiedade, sem contar as pessoas que já estão em quadros depressivos, que podem ter uma certa piora dos seus sintomas. Por isso que esse assunto é tão importante.
É importante pontuar o que é autenticidade, o “ser autêntico”. Autenticidade é aquilo que é pessoal, ou seja, singular de cada um. É sermos verdadeiros conosco mesmos. É a expressão de si mesmo na relação com os outros. Se expressar através de escolhas originais, e isso causa uma ruptura não só com as convenções sociais (os padrões da sociedade), mas também dos laços humanos e da própria tradição (que são as expectativas da família).
E como ser autêntico?
1. A primeira coisa é entender que cada pessoa é autêntica à sua maneira, mesmo que o ambiente e o contexto que a pessoa esteja influencie no seu jeito e nas suas escolhas, cada um é um. E isso não vai mudar.
2. Aceitar que você nunca vai conseguir atingir as expectativas dos seus familiares, seja elas quais forem. Sabe por quê? Porque o desejo deles, as expectativas deles têm mais a ver com eles, do que com você. Mesmo que você atinja algo, não vai ser do jeito que era esperado. Nada estará bom. E se nada estará bom, para que sofrer nessa angústia de estar sempre se anulando na busca de agradar ao outro?
3. Aceitar que você nunca vai estar dentro do padrão da sociedade. Sabe por quê?
a. Primeiro que pouquíssimas pessoas, se encaixa dentro desse padrão. Uma coisa que eu sempre falo é que a sociedade preza por um padrão que nem ela mesma se encaixa. Até porque, a sociedade somos nós. E essa pequena porcentagem que se encaixa é por pouco tempo;
b. Já que os padrões estão sempre mudando. Padrões de beleza, do que é certo e errado, bonito e feio, estão em constante mudança ao longo do tempo e da história. É só pesquisar. Esses tempos atrás aí teve a alta da discussão de gerações, dos cringe, sobre tomar café da manhã, usar calça jeans skinny… essas coisas estão sempre em mudança, então para que se anular tentando se encaixar em algo que já vai mudar?
Quando você entende que cada pessoa é única à sua maneira, você percebe que isso vale para você também. Você tem o seu jeito especial e único, independentemente de como seja. E tudo isso colabora para reduzir níveis de ansiedade e de angústias, colaborando para uma vida mais saudável e tranquila.
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