No último domingo (29) foi celebrado o Dia da Visibilidade Lésbica no Brasil. Essa data tem como objetivo despertar a atenção da sociedade para a luta pela visibilidade da mulher lésbica, suas pautas e reivindicações dentro do movimento. Mas há quem questione “visibilidade para o quê?”. De acordo com o dossiê do Lesbocídio, publicado em 2018, desde o início dos registros de mortes de lésbicas no Brasil realizados pelo GGB (Grupo Gay da Bahia) em 1993, os números por ano só aumentaram.
De 2000 até 2017, o aumento foi de 2700%. Desde 2013, o número dos registros se mantém em constante crescimento, sendo o maior já registrado do ano de 2016 para o ano de 2017, quando o número de casos registrados teve crescimento de 80%. Os casos de lesbocídio tiveram um aumento substancial nos últimos anos, e em 2020, os índices de violência por Lesbofobia (discriminação contra mulheres lésbicas) foram alarmantes, assim como todas as violações de direitos de grupos vulneráveis.
A maior parte das lésbicas assassinadas são as não-feminilizadas, representando 66% de todos os assassinatos. Chamamos de lésbica não-feminilizada aquela que não corresponde ou não performa aos estereótipos de feminilidade socialmente definidos às mulheres. Esse é o tipo de dado que apenas comprova como a homofobia social e cultural tem como base a crença de que a homossexualidade ameaça profundamente a estrutura social patriarcal.
São essas as raízes de comportamentos lesbofóbicos e comentários do tipo “é lésbica porque você não encontrou o homem certo, que te pegue de jeito” ou “isso é falta de pint*”. Curioso, como se uma genitália tivesse o poder de solucionar todos os problemas da vida de uma pessoa. Eu atendo homens cis, trans, héteros, gays, bissexuais e nenhum deles está livre de ter problemas na vida por “simplesmente ter uma genitália”. É graças a essa sociedade heterocentrada que faz os homens acreditarem que o mundo gira ao redor do falo deles.
Outra informação alarmante, foi o mapeamento geográfico de lesbocídios. O estado brasileiro com maior número de registro foi São Paulo, com 20% de todas as mortes no país, sendo a capital paulista a que mais mata lésbicas no Brasil. No entanto, as lésbicas têm o dobro de chance de morrerem em uma região do interior quando comparado às capitais. Dos 126 casos registrados entre 2014 e 2017, 82 deles acontecerem em cidades do interior do estado.
Cidades do interior, pequenas, afastadas ou até cidades consideravelmente grandes, mas com uma “alma” de cidade pequena, extremamente conservadora e costumes profundamente machistas e homofóbicos. Soa familiar?
Os assassinatos de pessoas LGBT+ geralmente são carregados de ódio e isso pode ser facilmente percebido ao analisar os dados de “execução” utilizados nos assassinatos. A maioria faz uso de armas de fogo e com muitos tiros (como se fossem bichos, zumbis que a qualquer momento poderiam voltar a vida para contra-atacar, né?), mortes por facadas, por espancamento e estrangulamento.
E toda essa barbárie, em 72% dos casos, acontece em “espaços públicos”, vias públicas, estabelecimentos comerciais, espaços ermos etc. Ao me deparar com uma informação dessa eu me pergunto: será que não tinha mais ninguém ali que pudesse fazer alguma coisa? E se tinha alguém, foi conivente com a violência?
Fico profundamente entristecida ao saber que redigi um texto encharcado de violência, mas isso só demonstra a necessidade de uma atenção especial do Estado para um dos tantos problemas sociais que nos rodeiam diariamente. Além é claro, de todos nós enquanto sociedade, cidadãs e cidadãos, homossexuais ou héteros, começarmos a compreender e respeitar as diferenças como apenas uma possibilidade natural e saudável de existência.
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