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Homossexualidade precisa de cura?

Já se passaram 30 anos desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da classificação de doenças relacionados à saúde (CID), e 28 anos desde que deixaram de considerar a transexualidade como doença mental

08/06/2022 às 16h25 Atualizada em 08/06/2022 às 17h51
Por: Jussara Prado
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Reprodução/Freepik
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Na primeira semana de junho, mês em que se comemora o Orgulho LGBTQIA+, a Câmara de Curitiba aprovou sem debates uma homenagem à psicóloga Deuza Avellar, que trabalha promovendo terapias de reversão, a famosa “cura gay”. O Título de Cidadania Honorária foi aprovado com 21 votos favoráveis, 7 contrários e 3 abstenções. Além de atuante em terapias de conversão, Deuza também é militante contrária à “ideologia de gênero”, termo designado com o objetivo de denunciar qualquer tipo de incentivo à educação sexual e de gênero.

Além de atuar com foco em autoestima e relacionamentos, eu também atendo pessoas LGBTQIA+ em minha clínica. Esse tipo de homenagem, além de ser inconstitucional, incentiva o ódio e a aversão a pessoas LGBTQIA+, alimentando a LGBTIfobia já existente na sociedade. Só neste ano, Curitiba já registrou mais de 18 boletins de ocorrência por crimes de LGBTIfobia, número maior do que o registrado durante todo o ano de 2021.

A população LGBTQIA+ apresenta uma maior prevalência de síndromes depressivas e ansiosas em comparação à população cis heterossexual, isso devido a algumas vulnerabilidades específicas dessa população, como vivências de preconceito e diversos tipos de violências, rejeição, estigma, autoestigma. 

Acredito que o profissional de psicologia que não consegue ver a homossexualidade ou a transexualidade como uma forma positiva e potencialmente criativa de viver a vida, apenas mais uma das diversas possibilidades da sexualidade humana, deve reconhecer suas limitações e se abster de atender pessoas LGBTQIA+, pois seus conteúdos internos como medos, ambivalência e ansiedades poderão ser projetados para o paciente, prejudicando mais ainda sua saúde mental. 

Além disso, a (o) psicóloga (o) que promove terapias de conversão, está nitidamente transgredindo o Código de Ética do Profissional de Psicologia. Em março de 1999, o Conselho Federal de Psicologia sancionou a resolução 01/1999 que estabelece normas de atuação para as (os) psicólogas (os) em relação à questão da orientação sexual, proibindo a atuação da (o) psicóloga (o) em qualquer ação que possa favorecer a patologização de comportamentos ou práticas LGBTQIA+, principalmente serviços que possam promover o tratamento e cura das homossexualidades.

O trabalho da (o) psicóloga(o) deve ser embasado não só no Código de Ética do Profissional da Psicologia, mas também nos Direitos Humanos. Essa prática de conversão, além de ser inconstitucional indo de encontro a estes dois, são extremamente degradantes e discriminatórias, prejudicando a existência e saúde da pessoa LGBTQIA+ de maneira geral.

Para qualquer interessado no assunto, temos diversos casos fracassados de pessoas que foram internadas em instituições que promoviam a “cura gay” e que tempos depois voltaram a vivenciar sua verdadeira essência como pessoa LGBTQIA+. Como o filme “Boy Erased: uma verdade anulada”, que relata a história de Garrad Conley que foi internado em uma dessas instituições. Também o documentário “Pray Away”, lançado pela Netflix que aborda as terríveis consequências de programas e terapias de “cura gay”.

Já se passaram 30 anos desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da classificação de doenças relacionados à saúde (CID), e 28 anos desde que deixaram de considerar a transexualidade como doença mental. Até quando iremos continuar com esse retrocesso? Até quando iremos exaltar ou homenagear pessoas, figuras públicas ou políticas que claramente possuem uma postura inconstitucional e atitudes desumanas?

Ser LGBTQIA+ não é uma escolha. Ninguém é influenciado a ser LGBTQIA+. A pessoa LGBTQQIA+ nasce assim. Não é culpa de ninguém, muito menos punição de Deus. Até porque, ser LGBTQIA+ não é errado, muito menos pecado. É apenas mais uma das diversas formas de ser, existir e viver como ser humano.

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