Na luta contra a Violência Sexual a crianças e adolescentes, o Centro Universitário UniBrasil realizou em maio no Auditório Cordeiro Clève o Debate Maio Laranja: Violência Sexual Infantojuvenil. O evento foi solidário e aberto à comunidade, sendo a entrada a doação de 1 quilo de alimento ou água potável a serem doados para a campanha de apoio às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul, intitulada Chimarrão Solidário.
O dia 18 de maio é marcado no Brasil devido ao sequestro, estupro e morte de uma menina de oito anos, no Espírito Santo, chamada Araceli. O caso aconteceu há mais de 50 anos e permanece até hoje sem ter sido resolvido, explica a psicóloga Adriane Wollmann, que também é psicanalista, especialista em saúde mental, psicopatologia e psicanálise e mestre em políticas públicas. Adriane é funcionária pública da secretaria municipal de saúde e compõe a coordenação executiva municipal da Rede de Atenção e Proteção a Pessoas em Situação de Violência. Wollmann também é docente em cursos de graduação e pós-graduação e Coordenadora da pós-graduação em Psicologia Jurídica do UniBrasil.
“O tema da violência sexual infanto-juvenil é muito importante para diversas categorias profissionais, porque é o fenômeno da violência é multifacetado, ele tem várias e inúmeras causas”, explica a professora Adriane.
Por isso, o atendimento a uma criança que sofre violência sexual necessita de esforços de muitas categorias profissionais: “desde a assistência à saúde, ao direito a defesa e garantia dos direitos de crianças e adolescentes, para então, prevenir, tratar e recuperar os seus direitos”, complementa.
O papel da educação como prevenção à violência
O evento, cujo foco foi promover uma abordagem multidisciplinar, contou com a presença da psicóloga Judiciária do Tribunal Judiciário do Paraná, Maristela Sobral Cortinhas, Doutora em Ciências e Tecnologias e Mestre em Educação.
Além de ser pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Tecnologia, Atividade e Saúde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Maristela atua no Juizado de violência Doméstica e Familiar e Vara de Crimes Contra Criança, Adolescente e Idosos de São José dos Pinhais.
Na ocasião, a especialista falou sobre a questão do estupro no Brasil, a constituição da subjetividade e, ainda, sobre ações que podem agir como preventivas no combate à violência sexual infanto-juvenil. “As ações preventivas eu vejo como uma só, que é a educação, pois, não existe outra forma de você enfrentar essa problemática, que é um problema social e um problema de saúde pública, sem educação”, ressaltou.
A psicóloga enfatizou também que a educação sexual deve acompanhar cada etapa de desenvolvimento, para que as crianças e os adolescentes possam conhecer o seu próprio corpo, saber o que pode e o que não pode.
“A diferença entre a criança e o adolescente é que o adolescente já tem uma consciência do que é a violência sexual, enquanto a criança ainda não. Por isso, é uma abordagem diferente do ponto de vista da educação, é diferente a abordagem para a criança e para o adolescente”, orientou Maristela.
Ainda durante a sua fala, Maristela apresentou alguns dados oficiais de um dos seus estudos mais recentes sobre o perfil da violência sexual e sua relação com a formação da subjetividade humana.
Direitos das crianças e adolescentes
O Promotor de Justiça, Eduardo Monteiro, titular da 1ª Promotoria de Justiça do Boqueirão, especialista em Direito pela Universidade de São Paulo, pós-graduado em Direito Administrativo pela Universidade Federal do Paraná e participante da Liga de Enfrentamento contra violência sexual do Boqueirão, também compôs o quadro dos palestrantes. Ele falou sobre a defesa da garantia de direitos de crianças e adolescentes vítimas das mais diversas violências e o impacto da violência sexual para as vítimas e seus familiares.
“Parece para mim, muito importante a gente mencionar que a violência sexual está permeada na nossa sociedade. Então, existem fatores que favorecem isso, seja porque nós vivemos em um mundo misógino, onde existe muita violência, agressividade ou quando as crianças são tidas como apenas objetos, para fins diversos. Então, é fundamental discutirmos que sociedade nós vivemos”, alerta o promotor.
Ele provocou ainda reflexões que considera fundamentais: “o que nós podemos fazer para termos melhorias de vida na sociedade, de mais paz, de mais equilíbrio, de mais saúde, de mais cuidado? Esse debate ele é muito importante porque vem trazer, justamente, um tema que é pouco explorado. E aqui nós estamos no Centro Acadêmico, em uma universidade de referência, que traz esse debate para a sociedade e para os seus alunos, a fim de que o conhecimento profissional possa ser desenvolvido”.
Como promotor, Eduardo abordou o papel da justiça da Infância e juventude quando frente à uma situação de violência sexual: “o que nos cabe fazer para proteção daquela criança, daquela vítima, dentro de um contexto familiar em que muitas vezes, é o próprio contexto em que agride”, destacou.
Adriane Wollmann finalizou reforçando que eventos como este são um caminho “para que a gente possa fortalecer os nossos acadêmicos e os profissionais, porque esse evento foi aberto para além da comunidade acadêmica, também para toda a comunidade externa do UniBrasil, para que a gente fortaleça as pessoas a acolherem e darem voz, darem crédito às vítimas de abuso sexual infanto-juvenil".