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Diversão & Arte Festa do Divino

Festa do Divino reuniu devotos do Espírito Santo

Os festejos tiveram música, procissão e missa neste domingo

20/05/2024 16h40
Por: Redação Fonte: Diocese de Ponta Grossa
Divulgação
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A 23ª Festa do Divino reuniu, neste domingo (19), mais de 300 pessoas, que, além do encerramento da novenário, saíram pelas ruas, na procissão em honra ao Divino Espírito Santo. O cortejo saiu da Casa do Divino e seguiu para a Catedral Sant’Ana, onde o bispo Dom Sergio Arthur Braschi celebrou a missa de Pentecostes. Os festeiros entoaram músicas típicas, colorindo o centro da cidade com suas bandeiras e estandartes, em uma demonstração de muita animação e fé. Na igreja, crianças vestidas de anjos entraram carregando faixas com os sete dons do Espírito Santo. A missa foi concelebrada por padre Antonio Ivan de Campos, pároco da Catedral, e diácono Pedro Diniz.  

Dom Sergio saudou os religiosos, ministros, acólitos, coroinhas, a comunidade da Paróquia Sant’Ana e, em especial, os integrantes da Casa do Divino e os devotos. “Hoje, em toda a Terra, a Igreja se alegra, se alegra imensamente com o Mistério Pascal de Jesus, como ouvimos no Evangelho, que repete a tarde da Páscoa, o momento em que Jesus ressuscitado aparece e mostra aos apóstolos as suas chagas gloriosas, que redimiram a Humanidade e possibilitaram à misericórdia ser derramada sobre todos os pecados, e, naquele momento, como ouvimos, Jesus sopra o hálito divino, o Espírito Santo sobre a Igreja, que estava nascendo. Ali, é o momento que estava começando a nascer esta graça que vem do Mistério Pascal, dos sofrimentos de Jesus na Paixão, na sua morte na cruz e da sua ressurreição gloriosa”, lembrou o bispo em sua homilia.

“Por isso, Jesus diz a eles: ‘a paz esteja convosco’. Diz duas vezes. E, soprando sobre eles, Jesus diz: ‘como o Pai me enviou, eu vos envio. O Pai me enviou ao mundo para realizar esta obra de salvação, o Reino de Deus, e eu realizei até o extremo do amor, de dar a vida. Agora, eu passo essa missão para vocês’. Já faziam dez dias que Jesus tinha voltado para junto do Pai, na ascensão gloriosa, então, o Espírito Santo, essa força do alto, desce de uma maneira pública, visível, na cidade de Jerusalém, naquela sala do cenáculo. Um vento impetuoso envolveu a casa, um vento estranho, e todos que estavam ali, mesmo de outras regiões do mundo, que vieram para a festa, presenciaram como as línguas de fogo descendo do céu pousaram sobre cada um deles, sobre a Virgem Maria, sobre os apóstolos, discípulas e discípulos que ali estavam”, enfatizou Dom Sergio.

Ao dar um testemunho pessoal, Dom Sergio contou que, toda vez que reza o terceiro Mistério Glorioso - a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos – diz: ‘a descida do Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os apóstolos e o início da missão universal da Igreja’. “Essa missão que nós, Igreja de Deus, temos, de levar esse Evangelho a todo o mundo. Uma missão universal. É para todos os povos, para todas as línguas e culturas e nações e de todos os tempos. Essa é a nossa tarefa, nossa missão com a graça do Espírito Santo. Por isso, estamos nessa caminhada do Sínodo, de caminhar juntos, que nos chama à comunhão, à participação, uma unidade que reúne a diversidade também. Comunhão que o Espírito Santo consegue realizar em tanta diversidade. Reúne a unidade do amor”, comentou, lendo em seguida a Oração pelo Sínodo. “Que bom que estamos vivendo esses tempos novos na Igreja. O Papa disse que o Sínodo não é sobre sinodalidade ou qualquer tema, é a experiência de ouvir, escutar o Espirito Santo. Não um assunto novo, mas uma experiência de fraternidade, de ouvir a todos os que estão longe, os que sofrem, os que nunca foram ouvidos, pela Igreja, inclusive, os vulneráveis, que tem de ser ouvidos, a começar pelos nascituros e os que nasceram e estão sofrendo com tantas guerras e adversidades. Como no Rio Grande do Sul, quantas crianças afastadas de seus familiares...Essa oração nos prepara também para o ano que vem, o Ano Santo, o ano do Jubileu e, para quem não puder ir para Roma, teremos aqui na Diocese maneiras de participar dessas graças que a cada 25 anos a Mãe Igreja nos concede e que vem da trindade santa. Uma oração dirigida ao Espírito Santo”, acrescentou Dom Sergio.

Lídia Hoffmann Chaves, coordenadora da Casa do Divino, agradeceu a todos, entregando ao bispo Dom Sergio um buquê de flores e uma camiseta com estampa da Casa do Divino e outra com a estampa da Catedral. “Queremos expressar todo o carinho ao nosso bispo, que vai deixar este ano o trabalho de pastoreio da Diocese, mas, que, esperamos, ainda fique conosco. Ano que vem contamos com a sua presença. Gostaria que o senhor mostrasse os presentes, muito simples, mas que lembram que o senhor vestiu sempre a camisa da Casa do Divino e da Catedral”, enalteceu Lídia, citando que a Casa do Divino de Ponta Grossa é a única do Paraná. Ela fica a duas quadras da Catedral, no centro da cidade. “Ainda pouca gente conhece. Uma casa que foi fundada em 1882 e que é patrimônio histórico cultural tombado, não só o imóvel, mas a cultura e a devoção ao Divino Espírito Santo”, explicou.

A coordenadora ainda fez um agradecimento especial à Casa da Cultura, ao secretário municipal Alberto Portugal, que cuidou da estrutura da festa, das tendas cobertas e do som, e também à Autarquia Municipal de Trânsito. “Temos um apoio importantíssimo da Diocese e da prefeitura municipal. A Casa do Divino não só é um patrimônio histórico, mas a primeira devoção católica tombada como patrimônio cultural da cidade”.

História

A professora universitária Elizabeth Johansen, devota do Divino Espírito Santo e estudiosa da devoção, afirma que ela se vincula a uma tradição devocional popular. “A origem da devoção, na forma de festa, remete a rainha Isabel de Portugal, por volta de 1.400, onde vai acontecer a primeira festa na cidade de Alenquer e que vai se estruturar a partir de uma série de características. Com o processo de colonização português, principalmente, com a presença de açorianos e madeirenses, essa prática da festa para o Divino, com coleta de dinheiro, fornecimento de alimentação durante os festejos, chega ao Brasil, especialmente na região Sul. A partir de então, se encontram as primeiras menções da festa no Brasil, anos de 1.800, começo do século XVIII, e se esparrama por todo o Brasil”, relembra a professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Professora Elizabeth explica que é uma forma de devoção popular, ou seja, uma forma de devoção laica. “Ela é voltada à terceira pessoa da Santíssima Trindade, mas a organização dos festejos é essencialmente popular. Como se espalha por diversas regiões, acaba assumindo características próprias de cada lugar; o que é o caso da devoção ao Divino que ocorre aqui em Ponta Grossa. Já existia na cidade, mas, a partir de 1882, quando Nhá Maria (Maria Júlia Xavier) encontra a imagem - em exposição no ostensório - a notícia se esparrama pelo povoado de que a Nhá Maria recebeu um milagre do Divino e, a partir daí, se inicia um processo devocional. Na tese, menos de um ano depois da notícia do encontro da imagem, se encontram orações que foram deixadas, ou seja, ‘ex-votos’”, detalha. Ex-voto é o presente dado pelo fiel ao seu santo.

A professora continua citando que a devoção ao Divino naquela casa se estruturou e se manteve. “São 141 anos de devoção naquele lugar. Durante todo esse período, a festa do Divino existiu também em outros locais. Em pesquisas, encontrei uma senhora que a bisavó era contemporânea da Nhá Maria e que a festa era feita a partir de procissões, orações e cantos no entorno da Casa do Divino. A presença de bandeiras, mesmo durante o bispado de Dom Antônio Mazzarotto, a gente encontra. O bispo nunca mencionou a devoção em suas cartas pastorais, mas aceitava que as bandeiras chegassem, fossem levadas até a matriz Sant’Ana e ali passassem a noite para que, no domingo de Pentecostes, depois da missa, fossem abençoadas e voltassem para os seus locais. Já dá a entender que não era só aqui, que outros lugares também tinham. Como hoje em dia. Em bairros mais afastados que mantém a tradição da festa, com um alcance muito menor do que a Casa do Divino”, assegura.

Segundo a professora Elizabeth, a importância dessa prática devocional secular é que propicia, de certa forma, que a terceira figura da Santíssima Trindade se torne mais próxima, mais acessível e com um linguajar, com música, uma sociabilidade, que não se encontra no rigor institucional da Igreja Católica. “O Papa João Paulo II desenvolveu uma preocupação de aproximar essas práticas devocionais populares, não só o Divino, mas uma série de outras esparramadas no mundo católico, ao mundo institucional da Igreja. O Papa Bento XVI continua essa mesma prática e o Papa Francisco também. Aí, se compreende tão claramente a atuação de Dom Sergio Arthur, que já conhecia a devoção, em Curitiba e, chega aqui, e tem contato com o lugar e estabelece uma relação de muita proximidade com a Lídia (Hoffmann Chaves) e de apoio à Casa do Divino. O importante é pensar que é uma devoção popular que faz parte da identidade religiosa do ponta-grossense e que é acolhida de forma extremamente amorosa por Dom Sergio, dentro da Catedral. Ver ontem a bandeira e o ostensório entrando e, principalmente, sendo colocado em lugar de destaque, de respeito, de consideração, é olhar as formas populares de devoção católica e acolhê-las para o seio da Igreja institucional. Uma postura de acolhida e missionária já que, durante muito tempo, o trabalho da Casa do Divino foi um trabalho missionário, de levar a palavra de Deus, a presença do Divino para muitas casas e de uma forma que, muitas vezes, a institucionalização da Igreja Católica não consegue atingir”, sentencia a professora.   

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