As tendências de inovação na gestão escolar ficaram focadas, nas últimas décadas, na produção de conteúdo para prender a atenção de uma geração que já nasceu em meio à revolução digital provocada pela internet. Penso que agora é hora de voltar os olhos para o administrativo e, a partir dele, projetar o caminho da eficiência operacional que traga os resultados esperados. É preciso romper com vícios e tradições que muitas vezes impedem a instituição de ampliar os negócios. Ou seja, aquela antiga e ultrapassada estratégia de empurrar o produto ou o serviço e sem critérios racionais está muito restrita àquelas empresas que ainda apostam em um modelo no qual a qualidade não é a prioridade. Do meu ponto de vista essas empresas estão fadadas à morte. E esse processo começa com pequenos ruídos e a médio e longo prazo a falência é inevitável.
As empresas precisam aprender a investir em processos que garantam a qualidade daquilo que foi vendido. Em resumo: não pode ser desonesto. Segundo ponto: as instituições também devem prezar pela discrição de seus colaboradores. Precisam se preocupar com o que eles postam nas redes sociais e como se comportam e isso tem relação direta nos investimentos em cultura organizacional. Quanto mais atrito ou maior o ambiente com insegurança, ou até mesmo insalubre, maior a possibilidade de refletir no seu mercado e naturalmente afetar os negócios.
Outra necessidade urgente, na minha avaliação, é investir na escalabilidade dos processos internos. Pense em um curso livre em que o aluno precisa passar pela ligação de telemarketing da área comercial, ir presencialmente acompanhada de um responsável até a instituição escolar para assinar um contrato físico. É um processo que não condiz com a realidade e tem várias pessoas envolvidas, sendo consequentemente muito custoso. Esse é um exemplo para mostrar que as escolas precisam investir em um modelo mais self-service de matrícula, ou seja, deixar que o interessado que entrou no site da escola faça a matrícula, o pagamento e tenha acesso à primeira aula do curso antes de o acesso presencial, por exemplo.
Atuando há mais de 20 anos com gestores escolares, observo que outro grande problema que existe nas escolas é com relação à entrega do produto. O modelo mais tradicional é aquele em que a instituição espera em torno de 60 dias para formar uma turma. Esta turma tem uma limitação física de espaço e uma vez atingido esse limite para conseguir continuar oferecendo aquele curso a instituição escolar tem que abrir novas turmas e a escola perde tempo esperando.
O que o mercado tem se movimentado para conseguir: o mais comum é oferecer o meio online, e no meio online de ensino a gente está falando do modelo EaD completamente self-service e que tem o problema da evasão (que deve ser levado em conta no planejamento estratégico). O que se observa é que as escolas estão tentando manter as características do presencial, mas a distância. Ou seja, o aluno deve se conectar com o curso online em encontros síncronos (com dia e hora para isso) e o professor deve provar que o aluno realmente aprendeu. Algumas redes começaram a ter resultado e escalabilidade nas vendas de unidades e naturalmente isso começa a dar resultado. É um presencial a distância. A sensação é a mesma, pois a aula é ao vivo e o professor e os alunos estão ali interagindo como se estivessem em sala de aula.
A grande vantagem é que com esse modelo, o mesmo professor consegue ministrar a sua aula para várias unidades ao mesmo tempo. Então se eu tenho uma rede de 10 escolas, eu posso deixar os alunos de maneira presencial nessas escolas e o professor estar em outra localidade transmitindo a aula simultaneamente para todas as unidades. Esse modelo começou como protótipo em 2022, se consolidou em 2023 e começará a entrar em escala em 2024.
O gestor escolar deve fazer a seguinte pergunta: para eu conseguir o dobro de alunos eu preciso dobrar a minha estrutura de pessoal e de investimento? Se a resposta é sim, a sua operacionalização não é escalável. Essas práticas tanto na efetivação da matrícula quanto na entrega do curso são formas diferentes para garantir eficiência operacional e aí todo o resto da cadeia vai funcionar muito mais positivamente.
*Rafael Moreira é economista, gestor comercial com atuação na área de tecnologia, sócio e diretor de operações da F10 Software, especializada em desenvolvimento de soluções para o setor educacional.