Nos dois dias de atividades, os palestrantes foram unânimes em avaliar que todas as profissões desempenham um papel crucial no combate às emergências climáticas, ressaltando a urgência de um maior engajamento da sociedade com a causa.
O vice-reitor da UEPG, Ivo Mottin Demiate, destacou a importância do debate e da busca por soluções aplicáveis nas diversas áreas do conhecimento. “Ver tantos alunos e docentes aqui debatendo as emergências climáticas mostra o compromisso da nossa comunidade acadêmica com mudanças efetivas”, disse.
Na abertura, a diretora do Secisa e professora do Departamento de Serviço Social, Sandra Maria Scheffer, explicou o processo de escolha da temática. “Tivemos a sugestão de três temas, mas quando foi mencionada a questão do meio ambiente, mais especificamente das emergências climáticas, a comissão foi unânime em aprovar”, comentou. Ela enfatizou que a responsabilidade por um mundo melhor “é nossa, de toda a sociedade e de todas as profissões”.
O coordenador do curso de Psicologia, Oriomar Skalinski Junior, abordou como as emergências climáticas afetam a sociedade de formas que escapam às estatísticas. Ele mencionou “o trauma e suas consequências, como uma forma de sofrimento que não encontra, ao menos preliminarmente, nome nem escuta”. Para o professor, “é nesse ponto que a psicologia, e aqui penso especialmente a partir de sua vertente psicanalítica, talvez possa oferecer uma contribuição singular”.
A professora Adriana Gresielly Fabrini, coordenadora do curso de Administração com formação em Comércio Exterior, destacou um marco histórico que rege o atual momento global, onde as discussões ambientais se tornam cada vez mais necessárias. “Temos como referência a Revolução Industrial. Infelizmente, ela é, talvez, o grande agente do impacto que estamos sofrendo até hoje e o que nos traz a esta discussão”, comentou.
No campo do Turismo, a professora Jasmine Cardoso Moreira relatou que sua área é diretamente afetada pelas mudanças climáticas em todos os biomas. Ela mencionou problemas em geleiras, recifes de corais e florestas, além da poluição, que tornam a busca por soluções imediata. “Falamos em ecoturismo, na proteção, principalmente, das unidades de conservação. Ela é primordial para que possamos ter, realmente, um ecoturismo e evitar acidentes no futuro”, exemplificou. Moreira também apontou que a certificação de atrativos e empresas, como hotéis, tem se mostrado uma medida eficaz e um reconhecimento de iniciativas positivas.
Compromissos inadiáveis
No segundo dia do evento, Luiz Paulo Gomes Mascarenhas, da Superintendência-Geral de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo do Paraná, apresentou as ações que o estado está implementando para enfrentar a emergência climática.
Mascarenhas informou que o Paraná assumiu compromissos junto à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e participa do Programa de Cooperação Internacional Urbana e Regional (IURC) da União Europeia. Ele também destacou o programa Paraná Local 2030, medidas de conservação da Mata Atlântica que incentivam a apicultura sustentável (Morretes, cidade do Pólen), o projeto Piraquara 100% Orgânico, o alinhamento do Plano Plurianual (PPA) com os ODS da Agenda 2030, e o programa Visão 2053, que visa estruturar o estado para as próximas três décadas.
Na avaliação do superintendente, o Paraná pode ser considerado um modelo na busca por alcançar as metas de combate às emergências climáticas. “Mas, o estado sozinho não muda nada. Quem faz a mudança são vocês. E ninguém faz nada sozinho”, advertiu.
Cinco eixos prioritários
Gilson Cruz, professor de climatologia no Departamento de Geociências e coordenador do Laboratório de Climatologia e Estudos Ambientais da UEPG, ressaltou que “depois de tantas mudanças que nós provocamos, as emergências climáticas bateram à nossa porta” “Então, nós vamos ter que buscar soluções para esses problemas e produzir materiais”, argumentou. Cruz também observou a tendência de alguns grupos sociais normalizarem as mudanças climáticas, o que intensifica os problemas. “Precisamos conscientizar e é preciso que as pessoas também se conscientizem de que as mudanças climáticas estão aí e não atingirão a todos ao mesmo tempo e da mesma forma, mas, com certeza, afetarão com mais intensidade os mais vulneráveis”, alertou.
Emergência climática em números
Dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostram que entre 2013 e 2022, 93% dos municípios brasileiros foram afetados por eventos climáticos extremos, como inundações, secas, ondas de calor e incêndios florestais e 4,2 milhões de pessoas foram deslocadas em 47% dos municípios brasileiros devido a esses mesmos eventos.
Ondas de calor também se tornaram mais frequentes. Isso porque, segundo a Ong WWF , de 1961 a 1990, o Brasil registrava em média sete dias de ondas de calor por ano. Esse número subiu para 20 dias entre 1991 e 2000, 40 dias entre 2001 e 2010, e 52 dias entre 2011 e 2020. Perdas financeiras também foram observadas pelo Banco Mundial. No Brasil, o prejuízo foi de cerca de R$ 13 bilhões por ano entre 1995 e 2019.
Em todo o mundo, mais de 765 mil pessoas morreram em decorrência de eventos climáticos extremos, de 1993 a 2022, segundo a ONG German Watch e 220 milhões de pessoas foram deslocadas internamente entre 2014 e 2024, devido a desastres climáticos, segundo a ONU .
Texto e fotos: Helton Costa