Projetos de extensão da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) geram economia de mais de R$ 3 milhões em recursos públicos, nos municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Paraná. A redução de gastos se dá pela construção ou revisão de planos diretores e de mobilidade urbana, feitos pela instituição, sem demandar recursos públicos das Prefeituras.
As atividades são realizadas pelos pesquisadores das áreas de Planejamento Urbano e Regional e de Geotecnologias, do Curso de Bacharelado em Geografia, do Departamento de Geociências da UEPG. A iniciativa já beneficia os cidades de Cerro Azul, Doutor Ulysses, Guaraqueçaba e Adrianópolis. Nos próximos meses, o planejamento é atender Reserva, São João do Triunfo e Imbaú, o que pode elevar a economia de recursos para R$ 5,4 milhões. Os dados são do geógrafo e professor Márcio Ornat, coordenador geral dos projetos que estão auxiliando o poder público, com base em orçamentos recebidos de empresas privadas pelos municípios.
Trabalho
O Plano Diretor orienta o desenvolvimento e a expansão urbana de uma cidade. Ele estabelece as diretrizes para o crescimento ordenado do município e busca garantir a função social e a qualidade de vida dos habitantes. A produção desses documentos exige mão de obra especializada e demanda investimento de R$ 772 mil, em média. Em contrapartida, os pesquisadores da UEPG realizam um trabalho sem necessidade de alocação de recursos das Prefeituras.
Em Doutor Ulysses e Cerro Azul, que são os últimos colocados em IDH no Paraná, os planos diretores não recebiam atualização desde 2018. Em Guaraqueçaba e Adrianópolis, a UEPG chegou em 2023 e já auxiliou em audiências públicas, que são etapas obrigatórias dos planos diretores.
Cerro Azul
O prefeito de Cerro Azul, Edson Cordeiro do Nascimento, destaca que o trabalho da UEPG tem sido essencial para melhorar o trânsito de pessoas e veículos na área urbana, além de mapear as estradas rurais mais utilizadas. “Outro ponto muito importante é o mapeamento de pontes, bueiros, passos molhados e passarelas, para que, em momentos de crises com grandes chuvas, possamos ter a identificação prévia com as características destes locais e solicitar apoio a defesa civil, garantindo a acessibilidade da comunidade com agilidade”, afirma o prefeito.
O gestor municipal elogia o trabalho da equipe da UEPG e afirma que a presença da Universidade “garante um projeto com maior capacitação técnica e entrega com qualidade, pois o município não pensa apenas no recurso, mas também no que isso vai representar de melhoria”.
Em Doutor Ulysses e Adrianópolis
O Diretor Jurídico da Prefeitura de Adrianópolis, Paulo Henrique Budal da Costa, observa que a atuação da UEPG na cidade tem sido um verdadeiro divisor de águas para o planejamento urbano, “pois busca a valorização do território, promovendo em conjunto com o município a construção de soluções técnicas sólidas, voltadas à realidade”, afirma. Para ele, “a cidade tem sido diretamente beneficiada pelo trabalho coordenado pelo professor Márcio e sua equipe, que atuam com um olhar técnico, mas profundamente humano, respeitando as especificidades sociais, geográficas e culturais de nossa região. A parceria com a UEPG é motivo de orgulho para Adrianópolis”.
Guaraqueçaba
Andressa também avalia que um ponto central na revisão do plano diretor deve ser o fomento do desenvolvimento econômico do município de forma sustentável. “Isso implica incentivar atividades econômicas que genuinamente respeitem as características ambientais e culturais de Guaraqueçaba, como uma agricultura familiar diversificada, o turismo e a pesca de pequena escala, capazes de gerar renda e empregos de maneira consciente e duradoura”, argumenta.
Tanto em Guaraqueçaba, quanto em Adrianópolis, os moradores participam ativamente das audiências públicas. “Já estamos, nestes municípios de Guaraqueçaba e Adrianópolis, na segunda fase dos projetos, que é de análise temática integrada, relacionada à elaboração da leitura cartográfica, a consulta das demandas populares, a análise do funcionamento dos Conselhos Municipais e a construção do Panorama Fiscal de ambos”, explica Márcio Ornat.
Universidade também ganha
A Pró-reitora de Planejamento e professora do curso de Bacharelado em Geografia, Andrea Tedesco, menciona a formação dos alunos como outro diferencial e adianta que em próximas edições, os ingressantes deste ano, no curso de Arquitetura e Urbanismo, também poderão participar de projetos semelhantes. “É um projeto multidisciplinar e interdisciplinar, que está agregando diversos departamentos e está trazendo um crescimento profissional muito importante para os alunos”, explica ela.
O reitor Miguel Sanches Neto afirma que, além de auxiliar na formação prática dos alunos envolvidos, o projeto é de suma importância para a inserção da Universidade nas regiões em que ela está inserida, ajudando a modificar a realidade daqueles municípios que têm um baixo IDH e que precisam de um apoio técnico. “É, portanto, um projeto ganha-ganha. Ganha a Universidade, porque forma ainda melhor os estudantes, e ganham os municípios, porque recebem acompanhamento técnico de uma instituição que tem muito know-how nessa área”, enaltece.
Seguindo o plano
Márcio destaca ainda que o projeto ajuda a desenvolver metodologias de planejamento geográfico e territorial, por meio da interação com a sociedade, “formando recursos humanos, pesquisadores e profissionais, com a transferência de tecnologias que possam ser reproduzidas em outros municípios paranaenses”.
Há parcerias também com a Associação dos Municípios do Paraná (AMP) e com a Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). Os recursos têm como fonte o Fundo Paraná, por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras, e a Itaipu Binacional, por meio do edital “Projetos para o Programa de Extensão para Sustentabilidade Territorial”, gerenciado pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex).
Curiosidade
Desde setembro de 2023, a UEPG oferece o curso a distância de Tecnólogo em Mineração. A iniciativa nasceu de uma demanda das primeiras visitas de professores da universidade a Cerro Azul. Naquele ano, a Prefeitura demandou um curso que pudesse dar conta da falta de mão de obra especializada para a extração de minerais no perímetro municipal e na cidade vizinha, Adrianópolis.
Os dois municípios têm forte presença no segmento da extração de calcário (calcita e dolomita) e Adrianópolis também extrai fosfato (apatita), enquanto Cerro Azul se destaca no ramo da fluorita. Há um convênio com a prefeitura de Cerro Azul, que se encarrega do transporte dos alunos quando há atividades práticas do curso em Ponta Grossa ou em outras localidades. A primeira turma se formará no mês de setembro deste ano.
Texto: Helton Costa/Fotos: Arquivo do Projeto de Extensão e Helton Costa.
Cerro Azul
Guaraqueçaba