Em 25 de julho é comemorado o Dia do Escritor, uma ocasião para homenagear aqueles que, com o poder das palavras, constroem mundos, personagens e reflexões que transcendem gerações. A data, instituída em 1960, marca o reconhecimento da importância da literatura na formação cultural e educacional da sociedade brasileira.
O Brasil ostenta uma rica produção literária, com autores renomados que dominam os mais diversos gêneros. Essa riqueza cultural vem atraindo olhares internacionais, aguçando a fome pela leitura de nossas obras. Um exemplo recente é o caso da influenciadora americana Courtney Henning Novak, que viralizou nas redes sociais ao compartilhar sua experiência com o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
“Eu absolutamente amei Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Seriamente, este é provavelmente meu novo livro favorito. Eu vou definitivamente ler mais livros desse autor e mais literatura brasileira”, afirmou Courtney em um dos seus vídeos publicados no TikTok. Com entusiasmo contagiante, a influenciadora teceu elogios à obra e, em tom bem-humorado, lamentou que o livro tivesse apenas 300 páginas.
Para os estudantes que se preparam para os principais vestibulares do país, a leitura das obras obrigatórias se torna um portal para um universo de conhecimento e desenvolvimento intelectual. No entanto, segundo o Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura Árvore, 66,3% dos alunos brasileiros de 15 a 16 anos afirmam que o livro mais extenso que já leram não ultrapassou 10 páginas.
Uma análise realizada exclusivamente para o estudo mostra ainda que os estudantes que alcançam os níveis mais altos de aprendizagem têm, em geral, melhores hábitos de leitura. Segundo o professor de literatura do Aprova Total, Guilherme Suman, por meio desses livros, cuidadosamente selecionados pelas instituições de ensino, os candidatos não apenas aprimoram seu conhecimento literário, mas também constroem uma visão crítica da sociedade, da história e da própria condição humana.
“A literatura e a escrita têm um papel fundamental na formação dos estudantes e, consequentemente, na avaliação do Enem. As obras obrigatórias e a análise de textos em geral servem como ferramentas para avaliar não apenas o conhecimento literário dos candidatos, mas também suas habilidades de interpretação, de expressão e de pensamento crítico”, afirma o professor.
Os escritores para os vestibulandos ficarem de olho
As maneiras como as obras literárias são abordadas nos vestibulares variam conforme o perfil da banca e a tradição da instituição. No Enem, por exemplo, não há uma lista de obras pré-indicadas. O conhecimento amplo sobre autores e contextos é frequentemente auxiliado por textos de apoio, que ajudam a indicar o foco da questão e orientam os candidatos a reconhecerem as habilidades e competências necessárias para chegar à resposta correta. Entre os autores que mais aparecem estão Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Lima Barreto e Clarice Lispector.
Machado de Assis, o maior expoente da literatura brasileira, já foi tema de provas recentes do Enem. Em uma dessas ocasiões, um texto do autor foi utilizado para discutir a ironia, um recurso de estilo característico de suas obras. “O conhecimento prévio das características de Machado de Assis auxilia os candidatos a identificar a sutileza irônica em seus escritos”, afirma o professor Guilherme Suman.
Outros vestibulares, entretanto, exigem uma leitura mais detalhada das obras, já que indicam listas obrigatórias. Nesse contexto, uma compreensão mais aprofundada é essencial. “O mesmo Machado de Assis, presença constante em provas da UFRGS, integra a lista obrigatória há décadas. Em uma dessas provas, foi exigido um olhar crítico sobre a leitura de Dom Casmurro, considerando diferentes interpretações ao longo das décadas”, esclarece Suman.
As obras de outros autores, como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Lima Barreto, são normalmente cobradas por seus aspectos sociais e suas interpretações do Brasil, explorando diferentes épocas e estilos literários, mesmo quando os autores são próximos em termos temporais ou de movimentos análogos.
No caso de Clarice Lispector, e suas personagens como G.H. ou Macabéa, é habitual que as provas exijam uma reflexão sobre a subjetividade humana, explorando como essa temática emerge com profundidade nas obras da autora naturalizada brasileira. A análise geralmente envolve seu estilo singular e sua escrita potente, metafórica e intimista.
Segundo o professor, obras como Iracema, de José de Alencar, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, Macunaíma, de Mário de Andrade, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, também devem estar no radar dos estudantes.