“Mudou muita coisa por aqui”. “Ali era o laboratório, lembra?”. “Parece que foi ontem”. Quantas lembranças podem ressurgir em uma simples visita ao lugar em que você passou alguns anos marcantes da sua vida? Para a turma de Farmácia e de Análises Clínicas de 1977 e 1978, um reencontro com o prédio histórico do Campus Centro da Universidade Estadual de Ponta Grossa, quase cinco décadas depois da formatura, trouxe recordações e saudades.
Era tarde de sábado, 06 de abril, quando começaram a chegar os primeiros egressos da turma. Foram se reunindo, eles e seus familiares, no pátio interno. O local era familiar, mesmo depois de 46 anos. Para quem tanto caminhou por aqueles corredores, o caminho ficou marcado na memória, ainda que tenha diferentes placas, bancos, janelas – logo ao lado, no piso térreo do Bloco A, aconteciam a maior parte das aulas teóricas e práticas. Onde hoje é o Ambulatório Central, antes funcionava um dos laboratórios mais utilizados pelos então alunos de Farmácia.
Em 1978, eles eram 16 formandos. Em 2024, foram sete os que puderam voltar à Universidade e rever os colegas, junto com suas famílias. Uma dessas famílias era a de Walter Reuter, que viajou cerca de 500 km, cruzando o Paraná, para reencontrar velhos amigos. “Tínhamos feito um encontro de 10 anos de formatura. E foi a última vez que a gente teve um contato com a turma toda, assim”, conta. Após retomar contato com os colegas online, por meio de um aplicativo de mensagens, eles resolveram se reunir onde tudo começou.
Wilmar Biagini era o anfitrião do dia. Nascido e criado em Ponta Grossa, ele chegou a trabalhar em outras cidades após a formatura, mas retornou à terra natal há cerca de uma década para trabalhar na Fundação Municipal de Saúde. “É especial a gente rever os amigos, lembrar do tempo que esteve junto e do que a gente passou aqui”, comentou. “Vamos recepcionando o pessoal, revendo cada um… Os que ainda têm cabelo, está branco, né”, brinca. “É muito prazeroso, muito gostoso relembrar o tempo de faculdade”.
Quando o pai de Luiz Tadeu de Andrade Mercer faleceu, ele tinha 14 anos. O pai tinha uma drogaria em Tibagi, onde Tadeu nasceu e vive até hoje. “No dia que ele faleceu, decidi: eu vou continuar com a farmácia”. Essa decisão o trouxe à UEPG e deu o tom para sua trajetória profissional. Voltar à Universidade foi, para ele, recordar bons momentos e amizades.
Formação de excelência
Quando a turma chegou à UEPG, em 1975, o curso de Farmácia já tinha mais de duas décadas de atividades e já era reconhecido como uma formação de excelência. Biagini conta que na época em que fizeram o curso, havia primeiro uma formação generalista, em Farmácia e Bioquímica (que a turma concluiu em 1977) e em seguida, em Análises Clínicas (finalizada em 1978).
“Era uma outra época. A informatização estava apenas começando”, rememora Mário Ferreira. “Os laboratórios eram todos manuais. A biblioteca era muito legal, tinha fila para pegar os livros, que tinham fichas anotadas à mão. Nós estudamos anatomia e fisiologia em livros em espanhol, porque não tinha versão em português”. Depois de vir estudar em Ponta Grossa, Mário ainda ficou por um tempo na cidade como professor da própria UEPG e em colégios particulares. Depois, montou um laboratório de análises clínicas no interior de São Paulo. O que fica na lembrança, para ele, era a convivência e a relação próxima entre alunos e professores. “Era uma universidade menor, então tinha certo vínculo”.
Criado em 16 de setembro de 1952 e reconhecido em 1956, o curso inicialmente era ofertado pela Faculdade Estadual de Farmácia e Odontologia de Ponta Grossa no então Colégio Sant’Ana, em frente à Praça Barão do Rio Branco. Em 1966, os cursos de Farmácia e de Odontologia foram desmembrados e foi criada a Escola Estadual de Farmácia, que se tornou Faculdade de Farmácia e Bioquímica no ano seguinte. Com a criação da UEPG, em 1969, todas as Faculdades foram incorporadas à Universidade. Em 1993, o curso foi transferido do Campus Centro para o Campus Uvaranas, no Bloco M.
Para João Carlos Repka, o prédio imponente na região central de Ponta Grossa não era nenhuma novidade. Ele estudou no Colégio de Aplicação, que funcionou de 1960 a 1976 onde hoje é o Bloco B do Campus Centro. “Quando nós éramos do colégio, era nesse pátio aqui onde nós brincávamos”, lembra, sentado em um banco no pátio interno. “Na frente do bloco principal, as árvores ainda não tinham crescido, e a gente corria por ali”. Depois de cursar o Ginásio Científico, equivalente ao Ensino Médio, não teve dúvidas sobre seguir na área da saúde, na própria UEPG. Depois de quase cinco décadas, era impossível para João Carlos segurar o brilho no olhar e o sorriso largo de quem volta para casa. “A gente lembra perfeitamente onde que eram as salas, de que matéria… É um sentimento muito gostoso, de um resgate de momentos maravilhosos que nós tivemos aqui, com grandes professores”, conta, sobre o sentimento do reencontro. Quanto aos colegas; para ele, é como se o tempo não tivesse passado. “Para mim, são os mesmos. Estamos um pouco diferentes, mais experientes, né?”, brinca. “Mas são os mesmos. As mesmas caras, o mesmo jeito de ser”.
Velhos amigos
A tarde de sábado foi repleta de sorrisos e de anedotas dos tempos de faculdade. O que um não lembrava tão bem, o outro completava: a vantagem de reunir diferentes pontos de vista sobre o passado.
“A UEPG é especial porque me liga a essas pessoas”. Dava pra ver no olhar de Agostinho Noronha o carinho e a felicidade por reencontrar os colegas de curso. “Sempre fomos muito amigos, e eu tive uma acolhida excepcional aqui. Esse prédio me traz lembranças de uma época da minha vida que foi maravilhosa”. Agostinho era de Curitiba e chegou a começar o curso de Farmácia em outra universidade, a poucos metros de onde morava. Mas o destino quis que ele pedisse transferência para a UEPG, onde se sentiu melhor acolhido e finalizou a formação profissional. Após uma carreira toda voltada às análises clínicas e uma breve incursão na gestão hospitalar, agora aproveita a aposentadoria.
Voltar para casa
Hoje, Silvio Carlos Mendes mora em Realeza, mas Ponta Grossa vai ser sempre lar. Foi aqui que ele casou com a esposa, ainda durante a faculdade, e criou seus filhos. Conversando na Praça Santos Andrade, em frente ao prédio histórico da UEPG, ele confidencia: ele e a esposa enterraram o umbigo da filha mais nova ali mesmo, para dar sorte. A trajetória profissional não foi fácil. Ele começou a trabalhar durante o curso, na Regional de Saúde, e não parou mais, passando por hospitais, laboratório e farmácias em Medianeira e em Realeza. Ainda é servidor estadual concursado, atuando na saúde pública de Realeza. “Não largo mais, até os 75 [anos]. Nem que eles queiram, ninguém vai me tirar”, ri.
“Tudo que eu tenho hoje, eu devo a essa Universidade”, enfatizou Sílvio, fechando com chave de ouro as entrevistas do dia. Ele contou que estava tomado por uma emoção muito grande, por ter entrado no prédio onde estudou, os corredores pelos quais passaram, lembrando de momentos bons e difíceis pelos quais passaram. “O futuro era isso aqui”. Agora, aquele futuro sonhado se tornou passado. “É graças à Universidade que hoje nós estamos formados, com família e graças a Deus, todos bem de saúde. É isso aí”.