As mulheres fazem bem aos negócios. É o que aponta o relatório TheReady-Now, da ONG Conference Board. De acordo com o estudo, empresas com pelo menos 30% dos cargos liderados por mulheres, têm 12 vezes mais chance de estar entre as 20% das companhias com melhor desempenho financeiro.
A pesquisa da organização Leadership Circle analisou mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores (incluindo chefe, chefe do chefe, colegas, subordinados diretos e outros) e mostrou que as mulheres tiveram pontuação mais alta em todas as dimensões de criatividade. Esse fator desencadeia em outras características das líderes mulheres: a mentalidade de trabalhar para que todos vençam, além da habilidade de construir relacionamentos e conexões fortes.
Para além das pesquisas, as próprias mulheres que ocupam cargos de chefia, se reconhecem neste perfil. Uma delas é Rita de Cássia Rodrigues, diretora comercial da Gaslog, uma empresa de distribuição de gás a granel. Inclusive, na companhia, 50% da diretoria é formada por mulheres. O número é alto em comparação com outras empresas brasileiras, nas quais a média de participação das mulheres na direção é de 26% (mesmo patamar de 2019). Esses dados são do estudo da Talenses Group e do Insper, cujo título é Panorama Mulheres 2023
Para Rita, a resiliência, que é uma soft skill das mulheres, foi decisiva para a colheita de bons resultados para a Gaslog em 2023. A diretora comercial explica que no ano passado implantou um novo modelo comercial dentro da empresa. A ideia era capacitar tecnicamente os vendedores, ou seja, oferecer aos funcionários uma formação na área de instalação de GLP em empresas e condomínios. Depois do aprimoramento, os vendedores passaram a fazer vendas consultivas.
O início, porém, foi desafiador. “Grandes mudanças podem causar certa resistência na equipe. Após conversar e ouvir atentamente a todos, foi possível implementar esse projeto, que rendeu 543 novos negócios para a empresa, que representam um crescimento de 134%”, conta Rita. Ela enfatiza que, com a mudança, a equipe oferece um atendimento melhor, rápido e mais assertivo.
Na visão de Rita, as mulheres conseguem expor uma situação de forma mais delicada e conseguem enxergar e apresentar um cenário que seja favorável para todos. “Foi assim que consegui a adesão da minha equipe para transformá-la em um time de técnicos, que entende as regras dos Corpo de Bombeiros, e que também possui a expertise comercial. No começo eles ficaram assustados, mas tive o apoio do nosso CEO, que fez o treinamento comigo”, conta Rita.
Habilidades e diferenciais
São diversas as habilidades das mulheres que podem ser usadas a favor das companhias. Uma delas, segundo Rita, é a escuta ativa, que pode ser definida como um processo de comunicação que envolve prestar atenção, de forma genuína, ao que os colaboradores têm a dizer. Dessa forma, é possível compreender plenamente as preocupações e necessidades deles. “Por meio da escuta ativa conseguimos entender os anseios de todos, dos colaboradores e da presidência. Esse é o primeiro passo. Depois, entra a nossa resiliência, para conseguir conciliar os desejos dos colaboradores e os interesses da empresa”, aponta Rita.
Já para Samanta Doria, que é diretora de relacionamento da Gaslog, as principais características das mulheres e essenciais nos cargos de gestão e liderança são a empatia e resiliência. “As mulheres conseguem lidar com situações de conflitos com facilidade, buscando cooperar para atingirmos os resultados. Aqui na empresa temos diversas mulheres em cargos de gestão e, com certeza, isso é um grande diferencial para nós. Além disso, acredito que a podemos servir como exemplo de governança e representatividade, inspirando outras mulheres”, conclui.
Maternidade ainda é tabu, mas poderia ser enxergada como diferencial
Enquanto amamenta o recém-nascido, sentada no sofá, prepara a madeira para o mais velho que está chorando e disputando a atenção com o caçula. As mães com dois filhos que estiverem lendo este texto certamente já vivenciaram essa cena na sala da sua casa.
Contudo, esses afazeres domésticos, que fazem parte da rotina das mães, podem revelar algumas características que as mulheres desenvolvem, como:
· Priorização de demandas: amamentar é a atividade principal, mesmo que surjam outras tarefas que exijam atenção no mesmo momento.
· Empatia: a mãe consegue escutar e acolher também o filho mais velho.
· Gestão de crise: o momento de amamentação é especial para o bebê, mas gera ciúme do outro filho. Todavia, a mãe tem a capacidade de manter o equilíbrio e dar segurança para os dois.
· Comunicação e oratória: com os movimentos limitados, a mãe resolve a situação com diálogo.
· Gestão de recursos e planejamento: a mãe aproveita aquele momento de parar tudo para amamentar para extrair leite, já calculando a próxima refeição da criança.
Contudo, grande parte dos recrutadores, possuem uma visão míope em relação às mães Prova disso é a pesquisa feita pela Nielsen, em parceria com a Opinion Box, que mostra que 75% das mulheres brasileiras tiveram seus trabalhos questionados por conta de uma gravidez e 88% das entrevistadas acreditam que a possibilidade de engravidar, é motivo para a não contratação.
Os dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas), na pesquisa ‘Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho no Brasil’, apontam que das 247 mil mulheres entrevistadas, metade perdeu o emprego após o nascimento da criança. O InfoJobs mostrou, em estudo, que 51% das mulheres já sofreram algum tipo de preconceito no ambiente de trabalho.
Os levantamentos mostram que parte da sociedade vê a maternidade como um empecilho para o desenvolvimento da carreira das mulheres. Pesquisadores americanos chamam esse fenômeno de ‘glass ceiling’, na tradução, ‘teto de vidro’. É como uma barreira invisível, que dificulta que as mulheres sejam promovidas para cargos importantes.
Samanta Doria também acredita que essa visão é distorcida e encontrou na Gaslog um porto seguro para conciliar a carreira e a maternidade. Ela admite que, com a chegada de um bebê, nada na vida será como antes, mas que esse novo papel traz novos desafios que podem ser considerados aprendizados e que impulsionam o desenvolvimento pessoal.
A diretora conta que, desde a gestação, não enfrentou nenhum desgaste na relação interpessoal no trabalho. “Os colaboradores, os gestores, o CEO e, principalmente a minha equipe, me apoiaram muito. Eu trabalhei todos os dias da minha gestação e tivemos bons resultados. No meu retorno fui acolhida de braços abertos e isso foi muito importante num momento bem delicado da minha vida. Grande parte das mães sabe como é duro deixar o filho na escola e voltar ao trabalho, mas confesso que foi algo tão leve que eu olho para trás e sinto gratidão por todos. A amamentação é algo muito importante e eu consegui amamentar o meu filho até os 7 meses, e isso foi possível por termos um ambiente de trabalho humanizado”, relata.
E Samanta é o exemplo de que o crescimento profissional existe mesmo após a maternidade. Ela se adaptou novamente à rotina e após 6 meses de retornar da licença maternidade foi promovida: era gerente e se tornou diretora. Com um olho no filho e outro na carreira, a diretora enxerga novas oportunidades no horizonte: “com certeza os desafios não param, temos vários projetos em andamento e muitas conquistas para 2024”, depõe.