A construção da nova sede da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em Piên, no Sul do Estado e integrada à Região Metropolitana de Curitiba, alcançou 49% de execução de acordo com a última medição, de junho deste ano. Esta é uma das 17 escolas voltadas à educação especial que estão sendo construídas pelo Governo do Estado, dentro de uma ação inédita no Paraná. Duas unidades, de Nova Laranjeiras e Flor da Serra do Sul, já foram entregues.
O investimento para a construção da nova sede da Apae de Piên é de R$ 2,9 milhões, sendo R$ 2 milhões do Governo do Paraná, com repasse da Secretaria de Estado das Cidades (Secid), e o restante de contrapartida municipal. A prefeitura também realizou a doação do terreno, distante menos de um quilômetro da atual instalação.
A Escola Especial Padre Ramiro foi fundada em 2010 e, de início, atendia cerca de 30 alunos com diversos tipos e graus de deficiência. Durante estes 15 anos de história, a instituição dobrou o número de pessoas atendidas, chegando a 62, desde crianças a partir de um ano de idade até idosos já na faixa dos 70 anos. Entretanto, as limitações físicas da atual sede impedem a ampliação dos serviços e do número de beneficiários.
“Hoje a nossa maior dificuldade é o espaço”, afirma a diretora da escola, Méri Pereira de Souza. “A demanda está crescendo a cada dia e o nosso espaço já não comporta mais alunos. Atendemos 62 estudantes, entre eles cadeirantes, além de um acamado, então nossa estrutura atual está bastante restrita.”
Apesar de funcionar em um espaço físico pequeno, o trabalho desenvolvido por lá é grande. Além da questão educacional, que segue a grade curricular da Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR), a Apae de Piên oferece neurologista, terapeuta ocupacional, psicóloga, fisioterapeuta, assistente social e nutricionista, esta última especialidade uma conquista de 2024.
Ter uma nova sede, maior e com possibilidade de ampliar os atendimentos, era um desejo desde que a instituição surgiu no município. “É um sonho antigo, de mais de 15 anos. Essa casa onde estamos hoje é alugada e fomos fazendo adaptações conforme a demanda crescia. Mas ainda precisamos de um espaço maior, com jardim, parque, áreas adaptadas para que os nossos alunos possam se desenvolver ainda mais”, destaca a diretora.
NOVA ESTRUTURA – A nova Apae de Piên terá dois blocos, sendo o primeiro com salas de aula, refeitório, banheiros femininos, masculinos e adaptados para pessoas com deficiência, e salas administrativas. Já o segundo bloco terá salas de apoio, fisioterapia, educação física, auditório e uma piscina que possibilitará atividades de hidroterapia com os alunos.
“Teremos salas grandes para um bom atendimento pedagógico e também salas para especialidades”, diz Méri, citando em seguida a grande novidade que será possível com o novo espaço. “Vamos oferecer hidroterapia, iniciando esse trabalho com os alunos e pretendemos, inclusive, ampliar esse serviço para a comunidade local por meio de projetos. Nossa nova escola está ficando linda e tenho certeza que será a Apae modelo do Paraná.”
A construção envolve a execução de serviços preliminares, fundações, estruturas, alvenaria, divisórias, muros e fechos, cobertura; esquadrias, acessórios, vidros e espelhos; instalações elétricas, telefonia, sistemas de proteção e ventilação, instalações hidrossanitárias, pavimentação, calçamento, paisagismo e equipamentos externos, entre outros acabamentos.
Realidade bem diferente da estrutura atual, lembra o prefeito de Piên, Maicon Tiguera. “A sede atual é uma casa adaptada, com muitas limitações de acessibilidade. Para se ter uma ideia, tínhamos alunos que precisavam entrar de maca pela cozinha, porque era o único espaço com passagem suficiente”, relata. “Na estrutura atual, também enfrentamos dificuldades para investir e ampliar, então pensamos em dar um salto de qualidade no atendimento público, especialmente a essa causa tão importante que é a da Apae.”
Ele explica que a construção da nova sede avança dentro do cronograma, com previsão de que a obra seja concluída até o primeiro trimestre de 2026. “O primeiro bloco já está na fase de acabamento e, no segundo, estamos finalizando a parte de laje para avançar também nessa frente. Temos uma boa equipe de trabalho e esperamos entregar a obra em breve para toda a comunidade”, ressalta Tiguera.
SEGUNDA CASA – Mais do que um local de ensino e aprendizagem, a Apae se tornou um lugar de convivência fundamental para os alunos. “É a segunda casa do meu irmão. Moramos em Curitiba por 30 anos e sempre tive o desejo de colocá-lo em uma escola da Apae e, depois que viemos para cá, deu certo. Ele melhorou muito”, afirma Romilda Freitas dos Santos, de 67 anos, irmã de João Freitas, 72, atendido pela Apae desde o início da instituição no município.
João é deficiente intelectual, devido a complicações na hora do parto, e também autista. “Antes de vir para a Apae, meu irmão não conseguia conviver com outras pessoas. Agora ele participa de tudo, vai nos eventos, gosta bastante. Aqui ele faz acompanhamento com psicóloga, neurologista e fisioterapeuta. É muito bom porque a gente não tem condição de pagar tudo isso por fora. Na Apae ele recebe toda a assistência necessária, é completo”, complementa Romilda.
Para ela, a nova sede representa a chance de mais pessoas receberem esse mesmo tratamento. “Passei esses dias na obra da escola. Estou muito feliz! Aqui o espaço é pequeno e lá terá tudo que se possa imaginar. Ela vai comportar melhor os alunos e com isso terão mais atividades, piscina, quadra para exercícios. Hoje são cerca de 60 alunos e tem mais querendo entrar, mas não tem como. A sede nova vai resolver isso”, opina.
O agricultor Dionízio Grosskopf, de 59 anos, é pai do Filipe, 30, que tem Síndrome de Down. Desde os três anos o filho frequenta a Apae. “No começo a gente ia para São Bento do Sul, em Santa Catarina, pois tinha um convênio da prefeitura daqui com o pessoal de lá. Depois que a Apae abriu em Piên, ele passou a frequentar na cidade”, lembra.
“Ele vem todo dia, raramente falta. O Filipe é bem independente e com o apoio da Apae melhorou ainda mais”, conta o agricultor. “Além do que eles aprendem aqui, tem o convívio, é outra vida para eles. Só quem é pai e mãe entende a diferença que a Apae faz na nossa vida.”
Não são apenas os alunos que serão beneficiados pela mudança, salienta Grosskopf. “Aqui é pequeno, mas é um espaço carregado de amor. Todas as pessoas que trabalham, os voluntários, quem chega sente isso. Mas eles merecem mais, merecem uma estrutura melhor, e a demanda está aumentando. Cada vez mais crianças e adultos com deficiência precisam desse atendimento. A nova sede é muito importante para nós”, comenta. “Sem o apoio do governo, quase não tem como as Apaes se manterem. Fica inviável.”
NOVAS SEDES – Além da Apae de Piên, que está com cerca de 50% das obras concluídas, e das unidades de Nova Laranjeiras e Flor da Serra do Sul, já entregues, outras 14 escolas serão construídas pelo Estado. O investimento total supera os R$ 32 milhões, com os repasses realizados pela Secid.
Vão receber novas unidades as cidades de Altamira do Paraná (52% da obra executada), Douradina (77%), Guamiranga (13%), Nossa Senhora das Graças (25%) e Prado Ferreira (62%), além de Ariranha do Ivaí, Boa Vista da Aparecida, Cambira, Capitão Leônidas Marques, Kaloré, Rio Branco do Ivaí, Nova Londrina, Santo Inácio e Tunas do Paraná, que estão em fase de projetos ou de licitações já autorizadas.
TRADIÇÃO DE APOIO – O secretário de Estado das Cidades, Guto Silva, destacou a parceria entre Estado e municípios para viabilização das novas sedes. “O Paraná tem uma tradição de apoio às Apaes, esse trabalho tão importante que é realizado todos os dias em diversas escolas especiais pelo Estado. E agora com uma inovação: a possibilidade de reformar e construir novas unidades em parceria com as prefeituras. O terreno é do município, o Estado constrói, dentro de um modelo que funciona muito bem e que vai permitir atender com qualidade os alunos e oferecer um ambiente de trabalho melhor para os professores e toda a equipe que atua nessas instituições”, disse.
Além do recurso investido na construção das unidades, o Governo do Estado repassa anualmente R$ 480 milhões para as escolas de Educação Especial nos 399 municípios. De 2024 e até 2027, o investimento será de R$ 1,9 bilhão. A medida beneficia mais de 40 mil estudantes com deficiências de todas as idades e aos familiares ligados a estas unidades. Os recursos são utilizados para garantir a manutenção das entidades e também a equiparação salarial dos profissionais que atuam nestas instituições em relação aos demais servidores da educação.
O deputado estadual Pedro Paulo Bazana atua há mais de 20 anos junto a essas instituições e foi um dos responsáveis pela articulação entre o Estado e as Apaes. “Esse projeto nasceu no nosso gabinete e foi apresentado ao governador Ratinho Junior, que prontamente acolheu a proposta. Piên é uma das cidades contempladas dentro de um esforço maior do Governo do Estado, que já entregou unidades em Nova Laranjeiras e Flor da Serra do Sul e tem obras em andamento em outras cidades”, afirma.
“A nova escola em Piên é um marco para o município e toda a região. Tenho acompanhado de perto essa realidade há mais de duas décadas e sei o quanto uma estrutura adequada faz diferença na vida das pessoas com deficiência, de suas famílias e dos profissionais que se dedicam diariamente a esse trabalho. Ela vai garantir dignidade, acessibilidade e melhores condições de atendimento para toda a comunidade”, acrescenta.
“Esse apoio é essencial. Sem a ajuda do Governo do Estado, não teríamos condições de construir uma sede nova. Ainda bem que o governador está olhando com muito carinho para as nossas entidades. Essa união com o Estado é o que está permitindo que a nossa escola finalmente saia do papel. E está ficando linda, para todos nós e para toda a comunidade”, finaliza a diretora Méri Pereira de Souza.
ATUAÇÃO – Criadas em 1954, as primeiras Apaes surgiram para prestar assistência às pessoas com deficiência intelectual ou deficiência múltiplas, buscando soluções para que os filhos tivessem condições de inserção na sociedade. Atualmente, o Paraná conta com 350 associações que atendem cerca de 45 mil alunos nas áreas de educação, saúde e representatividade na luta por seus direitos de inclusão social.
Há décadas, as Apaes lutam de forma independente pela inclusão social das pessoas com deficiência intelectual ou múltiplas deficiências. Em todo o Brasil, as escolas que atendem este público costumam ser instaladas em locais construídos com outras finalidades, muitas vezes com recursos dos próprios familiares e apoio de organizações filantrópicas.