Sábado, 07 de Setembro de 2024 (42)99838-3791
Literatura Literatura

Dia do Autor: comVC Portal entrevista autor do primeiro romance policial ambientado em Castro

Para o escritor, “A cidade se tornou mais que uma mera localidade, ou um simples nome no mapa".

25/07/2024 15h36 Atualizada há 1 mês
Por: Rodrigo Charneski
Reprodução
Reprodução

Rafael Teixeira Silva é formado em licenciatura em história pela UEPG e escreveu a obra “Através da Persiana: A história de um cleptomaníaco contada em dez dias", primeiro romance policial ambientado na cidade de Castro. Lançado em Outubro de 2023, o livro narra uma história envolvente no interior do Paraná, explorando sua rica história e cultura, além de destacar suas belezas naturais e diversas referências culturais. Acompanhamos o jornalista Bernardo Mantozzini durante dez dias de férias inesperadas, em que ele trama um audacioso roubo.

A Equipe do comVC Portal conversou com Rafael sobre a literatura dos Campos Gerais e sobre sua carreira.

 

comVc: O que o inspirou a começar a escrever?

Rafael: Desde minha formação inicial acadêmica, como licenciado em História pela UEPG, já notava uma predisposição para a escrita. A partir do meu contato inicial com livros e obras, passei a ter um grande respeito pela literatura nacional. Inclusive, meu TCC do curso, foi justamente sobre a relação existente entre a história e a literatura, usando-se como fonte primária o autor curitibano, Dalton Trevisan. O que, de certa maneira, despertou ainda mais uma vontade de escrever, sobretudo, obras que tivessem como enfoque e o pano de fundo, o prisma regional. 

Mas para além dessa visão regionalista, geográfica e cultural, digamos assim, os romances policiais desde minha pré-adolescência ocuparam boa parte das minhas leituras juvenis, o que aguçaram muito o desejo de voltar-me para esse gênero literário, me cativando à primeira vista.

 

comVc: Quais autores ou livros influenciaram seu trabalho?

Rafael: As minhas referências literárias são muito heterogêneas, gosto da poesia à crônica, do romance ao conto e etc. As obras de J.R.R. Tolkien, por exemplo, me encantaram pelas descrições extensas realizadas sobre sua “Terra Média”, as suas técnicas linguísticas para a elaboração de novas línguas, realmente se destaca muito, Tolkien foi um exímio escritor e pesquisador. 

Agatha Christie, não poderia deixar de ressalta-lá também. Gosto dos seus livros pois induzem os seus leitores a ficarem atentos a qualquer detalhe posto sobre as personagens, ou até mesmo aos ambientes em que são realizadas as ações de suas obras. Quando  é possível, retomo aos casos do seu grande detetive belga, “Hercule Poirot”.

Sir Arthur Conan Doyle, quiçá, ao meu ver, um dos maiores gênios do romance policial de todos os tempos. Seu mestre dos disfarces “Sherlock Holmes” e seu inseparável amigo “Dr. Watson”, me apresentaram a um mundo de inteligência e sagacidade na resolução de grandes problemas.

Machado de Assis, os romances machadianos, trazem a visão de um homem que compreendia a sociedade e política em que estava inserido no século XIX. Obras como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” me apresentaram a ironia de uma forma irreversível para mim.

Érico Veríssimo, com sua coletânea de fôlego intitulada “O Tempo e o Vento”, é uma aula do que um escritor deve se atentar ao se debruçar sobre a escrita de uma romance histórico, simplesmente delicioso de se ler.

William Shakespeare, o intocável inglês que me fez analisar o teatro como sendo a expressão máxima do ser humano, por englobar aspectos sociais, sobretudo, a partir dele pude analisar o comportamento humano, tendo como viés a psicologia humana. “Hamlet” é uma obra-prima aos meus olhos.

Fernando Sabino, Jorge Amado, Jô Soares e Carlos Drummond de Andrade, apesar de tão distantes em suas narrativas e tipologias textuais, ocupam um espaço importante em minhas memórias literárias-afetivas.

 

comVc: Como o ambiente local influencia sua obra?

Rafael: Ao meu ver,  o ambiente em que estamos inseridos não define apenas o comportamento ou nosso caráter, mas ele nos dá uma forma de enxergar o mundo em que vivemos. Acabamos percebendo nossas limitações, nossos pontos fortes a partir disso. Mesmo que eu seja jovem ainda, com meus 28 anos, só estive 2 anos ausente de Castro, os demais anos, sempre estive andando a passos curtos pela cidade, observando e absorvendo tudo o que via à minha frente.

Logo, a cidade se tornou mais que uma mera localidade, ou um simples nome no mapa. Para mim, se tornou um objeto de estudo, para eu compreender um pouco mais sobre sua formação, me dando até mesmo indícios do que eu poderia incluir em minhas obras, a respeito da cidade real. Mesmo que na ficção, foquemos no irreal e no abstrato, o concreto a cidade diz muito sobre quem mora nela, foi isso que tentei captar, observando os transeuntes, os prédios e casas, tanto na região central, quanto na área rural.  Pois o ambiente em que são tomadas as ações das personagens, ao meu ver, não pode ser negligenciada, deve ser pensada com carinho e meticulosidade Para que o leitor consiga ficar imerso e preso “às paredes” junto aos personagens e a trama que se sucede.

 

comVc: Quais são seus planos ou objetivos futuros na carreira de escritor?

Rafael: Por ora, encontro-me em um curto hiato das atividades de escritor, pois gosto de escrever enquanto encontro-me de férias escolares, para que eu tenha um tempo hábil para colocar as ideias da cabeça, na ponta do lápis, e a partir de então, passar a limpo para o notebook de maneira estruturada. Todavia, já tenho dois projetos em aplicação, um encontra-se semi-finalizado, que será um livro de Contos de Terror que se passam nos Campos Gerais, denominado “Tropeiro Cósmico”,  Nessa obra, confesso que faltam apenas alguns retoques antes de ser publicada a sua versão na íntegra.

Finalizei também o script, ou melhor dizendo, o roteiro do meu segundo Romance Policial, que se intitulará “Casos de Morfeu”. Essa obra foge à risca, pois é uma “Pré-sequência” do meu primeiro romance policial denominado: “Através da Persiana”.Nessa segunda obra, eu busco explorar a história dos dois personagens secundários, do primeiro livro, os detetives: “Catarina e Haroldo”, a ainda jovem moça e o ranzinza detetive irão desvendar o caso de um serial killer que está assombrando a cidade, do qual usa de técnicas hipnóticas para assassinar suas vítimas.Inclusive, Morfeu, é o nome dado ao Deus do sono na mitologia grega.

O livro se passará em Curitiba, nos inícios dos anos 2000.  Estou fazendo uma pesquisa apurada sobre a cidade, sobre a cultura e a tecnologia no geral, para encorpar ainda mais a trama. Outro projeto que pretendo concluir é a publicação em edição física do “Através da Persiana”, até metade do ano que vem (2025).

 

comVc: Acha que os governos dos municípios dos Campos Gerais investem o suficiente em cultura?

Rafael: No meu ponto de vista, Rodrigo, de fato há um certo incentivo à cultura aqui nos Campos Gerais, mas ainda sinto que fica restrito a alguns nichos específicos. Vejo a cultura como a diversidade das expressões artísticas de uma localidade ou região. Mesmo assim, sinto que há uma certa resistência e relutância com relação aos novos escritores a ingressarem neste “mercado”, sendo que é algo pouco comentado nas mídias tradicionais também.

Apesar de termos o reitor da universidade estadual de Ponta Grossa, o escritor Miguel Sanches Neto, que é um símbolo de assertividade na literatura regional e, sobretudo, paranaense. Vejo a necessidade de ampliar, não digo nem em questão de verba municipal, mas de fazer esse incentivo, acolhendo novos escritores, dando voz a esses sujeitos, demonstrando a importância de seus trabalhos para os Campos Gerais como um todo.

 

comVc: Na sua visão, qual a maior dificuldade de ser escritor nos Campos Gerais e no Brasil?

Rafael:  A maior dificuldade não é apenas uma questão de localidade, mas sinto uma resistência por parte dos leitores aos autores nacionais nos dias de hoje. Não gosto de generalizar, pois cada indivíduo é único, muito menos ser polêmico, não é do meu feitio, mas as pessoas são altamente influenciadas pelas grandes mídias e, atualmente as mídias sociais não buscam dar uma ênfase ou um destaque no trabalho “de formiguinha” realizado por jovens e novatos escritores, que ainda privilegiam a questão regionalista.

Não vou nem entrar em mérito com relação a taxa de leitura, isso não comporta aqui. Mas sabemos que muitos dos adolescentes e adultos brasileiros estão lendo de maneira irregular, ou  lendo quase nada em seu cotidiano, o que é muito preocupante para a propagação e difusão da cultura como um todo.Mesmo assim, principalmente, a nova geração ainda que leia regularmente, fica muito fascinada com aquilo que “vem de fora, a tal síndrome de “Vira-lata” que o Nelson Rodrigues tanto bateu na tecla, ainda em vida. Essa questão acaba inibindo a chegada de novos escritores que desejam alcançar patamares cada vez mais altos nessa rede editorial.

1 comentário
500 caracteres restantes.
Comentar
ANA LUCIA SZAUCOSKIHá 1 mês Ponta GrossaExcelente matéria!
Mostrar mais comentários
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.