Mulheres representam 25% do saldo de contratações no transporte terrestre em 2023, segundo o Caged

"Nós mulheres não somos caminhoneiras por falta de opção no mercado de trabalho. Somos caminhoneiras por opção de fazer o que amamos". É assim que Danieli Cristina dos Santos, 41 anos, define o perfil das mulheres neste ramo de serviço majoritariamente masculino. Ela, que atua na profissão há dez anos, foi contratada em janeiro de 2024 para integrar o quadro de motoristas da distribuidora de combustíveis ON Petro como a primeira mulher na função nesta empresa. "Somos vencedoras e merecedoras de tudo aquilo que adquirimos como profissionais, seja qual for a profissão", acrescenta.

Danieli faz parte de um universo de milhares de mulheres que atuam no setor de transporte terrestre no Brasil. Somente em 2023, o país fechou o ano com saldo de 21.644 mulheres contratadas neste ramo do mercado de trabalho. O número representa 25% do total - os homens registraram saldo de 65.273 novos trabalhadores admitidos em todo o país. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.

Mas a representatividade diminuiu nos últimos dois anos neste setor. Enquanto em 2021 as mulheres eram 31% do saldo de funcionários admitidos no país neste segmento, no ano seguinte (2022) essa porcentagem caiu para 25,8% e diminuiu um pouco mais no ano de 2023, para os atuais 25%. Mas, na contramão dessa queda, algumas empresas têm buscado contratar mais mulheres no setor e melhorar a representatividade feminina.

Incentivo

Fabiana Rompkovski, gerente de Recursos Humanos da ON Petro, distribuidora de combustíveis na qual Daniele trabalha, acredita que a demanda da sociedade por mais mulheres em diferentes postos de trabalho tem sido vista com mais cuidado e atenção pelas empresas. "A nossa intenção, enquanto setor produtivo, é que as mulheres estejam mais presentes neste e em outros setores. A busca das profissionais para ocuparem cada vez mais os espaços de trabalho tradicionalmente masculinos deve ser valorizada na hora da contratação, seja qual for a empresa. Precisamos quebrar paradigmas", diz. 

A distribuidora conta, atualmente, com 49 mulheres no quadro de funcionários administrativos, representando mais de 50%. “Pretendemos ampliar o quadro feminino cada vez mais. Sabemos que nosso segmento é formado na maioria por homens, mas estamos em busca de mais igualdade e com vagas abertas”, comenta Fabiana Rompkovski, gerente de RH da empresa.

Por ser a primeira mulher a bordo de um caminhão na distribuidora, Danieli quer que seu exemplo seja benéfico para que mais trabalhadoras como ela consigam as mesmas chances. "Eu me sinto privilegiada e muito agradecida por ter essa oportunidade. O meu desejo é que isso incentive outras mulheres também. Espero que eu seja a primeira de muitas", afirma.

Rotina

O trabalho da motorista em nada difere de outros profissionais na mesma função. "Viajamos com horário de jornada e as paradas acontecem conforme manda a lei. A rotina é acordar, tomar banho, fazer o checklist e dar início à viagem", conta. Entre um carregamento e outro, ela aproveita para matar as saudades da família. "Nas horas vagas, fico no celular conversando com amigos, filhos e netos, para não me sentir sozinha. Eu sinto saudades deles, choro, fico triste com a distância, porque a vida de uma profissional do volante é solitária, mas eu amo o que faço", afirma.

Com esse exemplo, Daniele acredita que, apesar das dificuldades enfrentadas pelas mulheres em todo o mercado de trabalho, em especial em uma profissão majoritariamente masculina, as trabalhadoras têm capacidade para conquistar muitos outros espaços. "Já vencemos tantas batalhas durante essas últimas gerações. Décadas atrás ninguém poderia imaginar uma mulher em um caminhão, ou um trator, ou chefiando uma empresa", avalia.