"A Caritas como serviço da caridade tem como fonte de vida e de ação a Sagrada Escritura o que vale dizer que é o próprio Jesus Cristo com sua dedicação ao Reino de Deus". A frase é de Dom Mário Antônio da Silva, presidente da Caritas Brasileira, bispo de Cuiabá (MT) e um dos três bispos visitantes presentes no Encontro Regional de Avaliação e Sistematização 2024 da Caritas Brasileira Regional Paraná, que está acontecendo desde ontem (26), no Centro de Espiritualidade Passionista (Cepa), em Ponta Grossa.
Previsto para ir até a manhã desta quinta-feira, o encontro celebra também os 15 anos da Caritas Paraná, lembrados em uma missa, à noite, na matriz da Paróquia São Sebastião/Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida, presidida pelo bispo referencial regional da Caritas, Dom Geremias Steinmetz, arcebispo de Londrina; pelo bispo de União da Vitória, Dom Valter Jorge Pinto, e pelo bispo anfitrião, Dom Bruno Elizeu Versari. Participam cerca de 60 agentes das dioceses de Ponta Grosa, Cornélio Procópio, Paranaguá, União da Vitória, Guarapuava, Palmas/Francisco Beltrão, Apucarana, Campo Mourão, Umuarama, Toledo, Jacarezinho, Foz do Iguaçu e das arquidioceses de Curitiba, Londrina, Maringá e Cascavel.
A equipe diocesana, composta por 18 integrantes (entre voluntários e diretores) está acompanhada do assessor eclesiástico da Caritas, padre Ademir da Guia Santos. Há oito anos a Diocese de Ponta Grossa não sediava o encontro. "Geralmente, participamos com apenas um ou dois agentes. Nesta edição, todos os voluntários e a diretoria podem vivenciar esse momento importante do Regional. É uma felicidade estarmos juntos na comemoração dos 15 anos. O interessante é que o primeiro secretário Regional foi o diácono Toninho (Flávio Antônio Pauluk), que é daqui e que ajudou a montar, começou o trabalho no Paraná", lembrou o presidente da Caritas Diocesana, Gilson Camilo da Silva.
Dom Mário, ao falar da Caritas, fez uma bela analogia se utilizando de figuras bíblicas. "Onde chega o rio, chega a vida, e, onde chega a Caritas, chega a vida, sobretudo nas situações de muita fragilidade e de muita necessidade e, às vezes, até de opressão e injustiça. Por isso, a Caritas é um rio caudaloso de direito, de dignidade, de justiça e de paz. Outra imagem que me vem no coração é o da árvore, a árvore que acolhe os pássaros, imagem dos pobres e necessitados, e árvore que estende suas raízes para o riacho, a fim de que suas folhas sirviam de remédio, suas flores de perfume e os frutos de alimento. A Caritas é uma árvore frondosa alicerçada na humildade, na compaixão e na humanidade das pessoas e que tem como tronco o próprio Jesus, que nos transmite a seiva para que possamos produzir muitos e bons frutos para a vida do mundo, da vida dos que creem e daqueles que não creem", comparou o presidente da Caritas Brasileira.
E acrescentou dizendo que, "Caritas ainda, como estamos vivenciando a preparação para o ano do Jubileu da Encarnação, deve ser uma manjedoura, que acolhe Jesus nos pobres, nos migrantes, nos doentes, nos encarcerados, nos injustiçados nos desempregados, em todos os que estão necessitados de uma mão estendida, um coração atencioso e de um olhar humano. Que a Caritas do Paraná e toda a nossa rede do Brasil possa se destacar nessas imagens bíblicas no serviço da caridade, que é o próprio Jesus Cristo", desejou o bispo.
Sobre a importância da Caritas Paraná na rede nacional, Dom Mário lembrou que a Caritas Brasileira se fortalece em cada um dos Regionais e os Regionais em cada uma de suas entidades membros, presentes nas dioceses, paróquias e comunidades. "É uma rede, uma parceria entre nós, instituição eclesial, e instituições governamentais, instituições civis, que oferecem, abrem portas para o emprego, o trabalho, para o rendimento da população. Somos uma rede porque a rede, quando é lançada, não pode estar rompida, mas tem de estar estreita, firme e, se necessário, ser consertada. 15 anos é uma ocasião para celebrar uma rede, digamos assim, que lançada, tem pescado muita gente. e pescar gente, como diz o Evangelho, é resgatar da fome, da miséria, da invisibilidade, da tristeza, da doença, às vezes, até da condenação do pecado e da morte. Caritas é evangelização, anúncio do Reino de Deus e libertação das pessoas".
15 anos
O bispo referencial regional da Caritas, Dom Geremias Steinmetz, destacou que, para o Regional, esses 15 anos representam que, pouco a pouco, todas as dioceses do Paraná foram assumindo a Caritas. "Havia dioceses que tinham a Caritas um pouco adormecida e, com todo o trabalho que foi feito, ela como que ressuscitou, foi realimentada, e, temos a alegria de poder dizer que temos 18 entidades membros do Regional Sul 2, uma por diocese, poderíamos ter até outras porque há Caritas paroquiais, que poderiam se inscrever e outras entidades que poderiam viver o espírito de Caritas. Mas, está bom. Agradeço a Deus por esse crescimento muito intenso nos últimos 15 anos", afirmou.
Quanto à relevância do trabalho desenvolvido, Dom Geremias definiu como importante a presença da Regional na Caritas nacional, "com gente nossa dentro da diretoria e sempre muito bem representada nas grandes discussões. É um momento de ação de graças sobretudo porque os leigos do nosso Regional assumiram bem esse trabalho, que não é dos padres, dos bispos...a gente busca apenas incentivar para que os leigos continuem cumprindo bem a sua função", reforçou o arcebispo de Londrina.
O bispo da Diocese de Ponta Grossa, Dom Bruno Elizeu Versari, conceituou a Caritas como um serviço de caridade junto às famílias, de promoção das famílias, principalmente as necessitadas. "Mas, também uma organização para que as famílias se unam e possam promover vida. Uma forma de auxílio, mas também de promoção de vida. A Caritas atua em várias frentes. São 12. Uma delas é o atendimento ao migrante. Um dia também nós fomos migrantes nesta terra e fomos acolhidos, e, hoje, chegam pessoas de todos os lados e a Caritas é sempre melhor preparada, com pessoas dedicadas a esse serviço de acolhida", enfatizou, afirmando que um encontro regional na Diocese anima os agentes. "É um desafio colocar na prática aquilo em que cremos. Nós cremos, mas viver a prática de poder atender o outro, é fazer a fé viva, no encontro com o próximo. Fico muito agradecido ao Regional por ter escolhido Ponta Grossa. É uma forma de motivar e animar o nosso povo, que dedica o tempo, o recurso, parte da sua vida para atender as pessoas", enalteceu.
Encontro
O encontro regional iniciou, ontem, com almoço às 12h30, seguida de acolhida e espiritualidade e apresentação da linha do tempo, mostrando a atuação da entidade nesses seus 15 anos de existência. Elizete Santana de Oliveira, coordenadora da Caritas Curitiba, contou que há algum tempo participa das atividades junto a Regional. "Sempre foi uma luta das Pastorais Sociais de a gente se reunir, se articular, antes desses 15 anos. Já conhecia um pouco do trabalho, torcíamos que conseguíssemos organizar a Caritas enquanto articulação regional. Em algumas dioceses havia o trabalho e, ao fazer memória dessa caminhada, acho muito bom lembrar os nossos antecedentes. A sementinha que foi sendo jogada, articulada, promovida fez o trabalho para que pudéssemos ter a Caritas Regional fortalecida. É fruto também das pastorais sociais", garantiu.
Márcia Ponce, secretária executiva da Cáritas Brasileira Regional Paraná, informou que os encontros regionais são itinerantes e acontecem para planejar, monitorar, avaliar e sistematizar. "Esse de avaliação e sistematização tem importância dupla. São momentos para olhar todo o trabalho feito no Estado, se as ações estão sendo impactantes na vida das pessoas, estão transformando vidas, mudando histórias, trazendo oportunidades, novos caminhos, e, também hora de pensar ações, planejar, olhar para o futuro com atitudes mais estruturantes que mudem realidades sociais", detalhou. Segundo Márcia, a pergunta e grande provocação do encontro é essa: o que se quer para os próximos 15 anos? "Teremos trabalhos em grupo para pensar e avaliar o que foi feito este ano, se conseguimos realizar ações, se não, o que impediu? Para o próximo ano, que outras ações podemos fazer? Em que áreas?", explicou.
A Caritas trabalha em 12 áreas de atuação. "No Paraná, não atuamos em todas, mas na diversidade que temos no Estado, temos muitas realidades que precisam de áreas diferentes, às vezes, umas das outras. Mas, a nível regional, sempre olhamos como a rede quer pensar a sustentabilidade, não só financeira, mas político-institucional. O que a Caritas planeja, como pensa suas ações de emergência, de atender moradores de áreas de risco, mas pensar a luta por moradia digna, trabalho digno...que outras estruturas sociais a gente pode contribuir para que haja mudanças", acrescentou.
A assistente social da Caritas Diocesana de Ponta Grossa, Erica Francine Pilarski Clarindo, , primeira mulher eleita presidente do Conselho Consultivo da Caritas Brasileira Regional Paraná (está em sua segunda gestão), contou que o último encontro na Diocese aconteceu em 2016. De lá para cá, a Caritas cresceu muito. "Hoje, temos aqui mais ou menos 60 pessoas e três bispos visitantes. É o maior número de pessoas em um encontro regional. Também a Caritas Diocesana está sendo representada por 18 agentes. É muito emocionante. Nesta quarta-feira, foi mais celebração, fazer memória. Tem muita gente nova chegando e é bom mostrar para eles o caminhar da Caritas, o que avançou, o que alcançou e celebrar. É um momento em que a Caritas é muito viva. Hoje é dia de celebrar a rede Caritas no Paraná", ressaltou.
No final da missa em ação de graças, representantes de cada unidade da Caritas recebeu um estandarte comemorativo dos 15 anos, com a imagem do rosto de Dom Ladislau Biernaski, o primeiro bispo referencial da Caritas Paraná e um dos grandes incentivadores de sua a criação. Conforme as palavras de Dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB em 2012, "o ministério episcopal de Dom Ladislau foi marcado pela inteira dedicação à pastoral e ao povo. Esteve presente e atuante de 1979 até 2006, como bispo auxiliar de Curitiba. Acompanhou, em nome de nossa Conferência, as ações das Pastorais Sociais no Brasil, como a Pastoral Operária e a Comissão Pastoral da Terra, da qual foi vice-presidente de 1997 a 2003, e era seu atual presidente. Acompanhou a Pastoral Carcerária e a Pastoral do Menor. Também prestou relevantes serviços no Regional Sul 2", dizia na nota de pesar pelo falecimento de Dom Ladislau, em fevereiro de 2012.